A pensar em Belém? O "moderado" António José Seguro "sempre teve tendência para fazer o mais difícil"
O socialista reforça que não está à espera do PS para uma decisão sobre a candidatura a Belém
Corpo do artigo
António José Seguro “sempre teve a tendência para fazer o mais difícil”. As palavras são do próprio, numa altura em que está a refletir sobre uma candidatura a Presidente da República, apesar de as sondagens o colocarem com uma intenção de voto residual. Apresenta-se como um “moderado” e alerta para os “discursos inflamados” dos que falam mais alto.
Seguro está num lote de possíveis candidatos da área política do PS, ainda não decidiu se vai candidatar-se a Presidente da República, mas a agenda bem composta indicia que a decisão pode estar para breve. E, questionado pelos jornalistas, reforça que não está à espera do PS.
“Quem sente a convicção e quem sente a vontade avança. Portanto, não tem de haver o patrocínio ou a chancela de um partido”, frisou, recusando alongar-se em matéria de presidenciais, nem sobre uma possível eleição primária para que o PS escolha o candidato a apoiar.
António José Seguro até pode avançar sem o apoio dos socialistas. Uma decisão que será tomada entre várias iniciativas, depois de dez anos com a política ativa em suspenso, que fazem lembrar uma campanha eleitoral.
Agora, numa escola no concelho de Sintra, na freguesia de Rio de Mouro, o socialista falou para uma plateia de jovens, em que muitos deles vão votar pela primeira vez nas presidenciais de janeiro do próximo ano. Apresenta-se como “um moderado” e alerta que “a moderação e os moderadores desapareceram”.
“Nós vivemos numa sociedade em que quem é moderado e fala num tom de voz como eu falo, dizem que é uma pessoa que não tem opiniões, que não é determinada. Mas se eu fizer um discurso inflamado, mesmo que esteja a dizer as maiores asneiras do mundo, dizem que é um líder”, lamenta.
Uma resposta aos que, dentro do próprio partido, consideram que António José Seguro não tem força para mobilizar o eleitorado nas próximas presidenciais. Os “extremos avançam”, avisa Seguro, e “muitos aproveitam-se do ódio”. Na política “há gente para tudo”, como é exemplo o tema da imigração.
“Se eu estiver a falar de imigração com este tom, não é muito excitante. Não tenho a posição extremista, de ‘fechem as fronteiras, metam militares e tanques e drones’. Ou ‘abram as portas, deixem entrar toda a gente’. Um discurso mais moderado, mais racional, que leve as pessoas a pensarem, é mais difícil. Mas eu sempre tive a tendência para fazer o mais difícil, confesso. São manias”, gracejou.
E “fazer o mais difícil”, nesta fase, pode significar suceder a Marcelo Rebelo de Sousa. Os valores das intenções de voto nas sondagens são pouco expressivos para António José Seguro e nem o PS parece empolgado com a possível candidatura do antigo secretário-geral.
As próximas presidenciais são de “especial importância”, não só “pela situação no mundo, mas também pela fragmentação política em Portugal, e daí a “reflexão” que tirou Seguro de um asilo de uma década, depois de ter perdido a liderança do PS para António Costa. O alerta sobre o estado da democracia fica feito.
"Nós só damos valor a um copo de água quando temos sede. E há muita gente que já nasceu, felizmente, em democracia. Com liberdade. Não conhece outras formas de vida”, acrescentou.
O aviso de um “moderado” para a importância de viver em democracia, perante jovens que nasceram bastante depois do 25 de Abril. Só falta mesmo o tiro de partida para a corrida ao Palácio de Belém.