"A Revolução Antes da Revolução": como o "golpe musical" de 1971 "mudou a música popular portuguesa"
Antes de "E Depois do Adeus" e de "Grândola Vila Morena" há todo um lastro de canções de resistência explicado agora no livro "A Revolução Antes da Revolução", de Luís de Freitas Branco.
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Quando passam 50 anos sobre o 25 de Abril, sabia que as mulheres também foram cantoras de intervenção? E que "A Noite Passada" foi composta por Sérgio Godinho enquanto estava preso no Brasil? E que o primeiro Festival de Vilar de Mouros foi organizado por um ginecologista obstetra?
Estas e muitas outras questões estão respondidas no primeiro livro de Luís de Freitas Branco. O autor de 35 anos dedicou milhares de horas a uma investigação em que entrevistou dezenas de figuras ligadas aos contextos de Abril. O derrube do regime também passou por aqui.
Com edição Livros Zigurate, “A Revolução Antes da Revolução” é um livro dedicado à música popular portuguesa, em particular aquela que também teve impacto no derrube da ditadura. O “dia inicial inteiro e limpo” teve muitos ontens, muita canção que foi além da canção de protesto, como o rock e o jazz.
Luís de Freitas Branco é consultor de comunicação e crítico musical, nesta altura mestrando de Ciências Musicais na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, a mestrar uma investigação sobre o “impacto das canções de protesto durante o período da troika”.
O apelido Freitas Branco insere-se numa tradição familiar de escrita e reflexão sobre música, uma particular ascendência musical que vai bem lá atrás, ao início do século XX. O autor é homónimo do trisavô Luís de Freitas Lobo, compositor que conheceu Claude Debussy e a estética do impressionismo em Paris. O jovem Luís de Freitas Branco é também bisneto do musicólogo Pedro de Freitas Branco, é neto de outro Luís de Freitas Branco - que venceu o célebre concurso de Yé-Yé em 1966 - e é filho de Pedro de Freitas Branco, o mesmo de Pedro e os Apóstolos, banda dos anos 90.
“A Revolução Antes da Revolução” tem como sub-título “o ano que mudou a chamada música popular portuguesa”. Falamos de 1971, ano de gravações ímpares, de primeiros festivais como Vilar de Mouros e o Internacional Jazz de Cascais que a PIDE não conseguiu parar, o Festival da Canção e as polémicas com Ary dos Santos, o Duo Ouro Negro e Bonga em sublevações artísticas no dito Portugal Ultramarino e de três essenciais LPs produzidos por José Mário Branco em Paris – “Mudam-se Os Tempos, Mudam-se As Vontades”, do próprio, “Cantigas do Maio”, de José Afonso, “Os Sobreviventes”, de Sérgio Godinho, além de “Gente de Aqui e de Agora” de Adriano Correia de Oliveira que, como diz no livro, foi musicado por José Niza, alferes- miliciano, entre mosquitos e cadáveres, no meio do mato de Angola.
