Diagnósticos semelhantes em várias áreas, mas caminhos diferentes para resolver os problemas. Do debate entre Pedro Nuno Santos e Mariana Mortágua sai a possibilidade de um acordo escrito caso haja uma maioria de esquerda, mas apenas depois de dia 10 de março.
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A porta está aberta para um acordo escrito, mas, a acontecer, só no pós-eleições. No debate desta sexta-feira na RTP, Pedro Nuno Santos, secretário-geral do PS, diz que um acordo escrito pré-eleitoral "nem sequer tem sentido" e que o PS defenderá o seu programa até dia 10 de março. Depois dessa data, lembra que sempre defendeu acordos escritos e que funcionou bem em 2015.
O debate começou por este tema, uma vez que Mariana Mortágua, coordenadora do Bloco de Esquerda, já tinha defendido uma clarificação pré-eleitoral através de um acordo escrito negociado antes das eleições. Questionada na RTP, esta noite, Mortágua sublinha que "não há outra forma de acordo, os acordos são escritos e escrutináveis pelas pessoas, é assim que funciona a democracia".
Mas se o desejo era de o fazer nas próximas semanas, tal não acontecerá. Um acordo escrito seria algo impensável? "Pré-eleitoral, claramente", vinca o secretário-geral do PS. "Nem sequer tem sentido, nós estamos a defender o nosso programa e defenderemo-lo até dia 10 de março. Quanto a acordos escritos, foi exatamente aquilo que sempre defendi, estivemos nessa primeira legislatura e funcionou bem desse ponto de vista", acrescenta Pedro Nuno Santos.
E sabemos que as áreas da saúde e da habitação, por exemplo, teriam de figurar nesse acordo. No debate, os temas não faltaram, mas a resolução dos problemas claramente é vista de maneira diferente entre ambos os líderes.
Mas a começar pela reversão das privatizações, Mariana Mortágua vinca que a prioridade do Bloco de Esquerda é com o controlo público, na próxima legislatura, da REN e dos CTT. E apesar de Pedro Nuno Santos ser crítico das privatizações feitas lá atrás, o caminho agora é seguir em frente.
"Eu fui sempre muito crítico de grande parte das privatizações que foram sendo feitas e daquilo que o país ganhou com elas, mas o que vai lá atrás, lá vai. Neste momento, temos outras prioridades, temos muitos problemas no país a que temos de dar resposta e nós precisamos de capacidade financeira do país que não é ilimitada. De facto, para nós, isso não é uma prioridade e, não só não é uma prioridade, como nem sequer está no nosso horizonte reverter nenhuma das privatizações", sublinha Pedro Nuno Santos.
Questionado sobre se essa for uma linha vermelha para eventuais acordos com o Bloco de Esquerda, o socialista deixa um aviso: "não se parte para uma negociação cheio de linhas vermelhas, isso significa que não se está disponível para negociar".
No que diz respeito a temas como habitação e saúde, ambos os líderes reconheceram que existem problemas, mas as soluções pensadas por ambos são distintas. Desde logo, Pedro Nuno Santos diz que Mariana Mortágua "não apresenta boas soluções" e aponta, por exemplo, a impossibilidade de concretizar a proposta bloquista de a Caixa Geral de Depósitos reduzir o spread do crédito habitação. Pedro Nuno diz mesmo que não só é impossível como é uma "medida regressiva".
Aproveitando os segundos finais do debate, Mariana Mortágua também quis deixar, em jeito de recado ao socialista, umas certezas. À cabeça, a de que não haverá uma maioria absoluta e, em seguida, que "a única hipótese de haver estabilidade neste país é um entendimento à esquerda" e que é isso que pode mobilizar o voto.
Explicações da PGR vistas como "positivas"
A marcar esta sexta-feira estiveram as explicações da Procuradora-geral da República, num comunicado, onde lamentou que os três arguidos do processo da Madeira tenham ficado detidos durante 21 dias, notando ainda que o Ministério Público tomou sempre decisões ponderadas, reiterando também o entendimento de que foram cometidos atos ilícitos.
Sobre este assunto, Pedro Nuno Santos, que durante a manhã tinha feito um apelo a explicações por parte de Lucília Gago, considera que este comunicado "foi positivo". "Acho muito importante que a PGR perceba que tem de dar esclarecimentos, caíram dois governos num curto espaço de tempo", destaca o líder socialista.
Já Mariana Mortágua, sublinhando que é incompreensível a detenção de arguidos durante 21 dias, manifesta confiança na Justiça e vinca que "é importante a Procuradora dê a cara e explicações, porque a Justiça faz parte da democracia".