Alexandra Leitão defende Governo do PS caso tenha "mais mandatos ou votos" no fim da contagem da emigração
No programa da TSF e CNN "O Princípio da Incerteza", a socialista assumiu a possibilidade de o PS ainda poder vir a ser indicado por Marcelo para formar Governo.
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A coordenadora do programa do Partido Socialista (PS) para as eleições legislativas defendeu que os socialistas devem ser chamados a governar, caso consigam superar a Aliança Democrática (AD) no final da contagem dos votos da emigração.
Em declarações proferidas este domingo no programa "O Princípio da Incerteza", da TSF e CNN Portugal, Alexandra Leitão assumiu a possibilidade de o PS ainda poder vir a ser indicado pelo Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, para formar Governo, apesar de o secretário-geral socialista, Pedro Nuno Santos, ter reconhecido no dia 10 de março o triunfo da AD e que o seu partido deveria passar para a oposição.
"Se o PS, depois da contagem dos votos das comunidades portuguesas, tiver mais mandatos ou, em caso de empate, mais votos do que a AD, então deverá governar. Se no fim desse escrutínio tiver menos mandatos do que a AD ou, empatando, houver mais votos na AD, deve governar a AD", afirmou, reconhecendo, no entanto, que será improvável que o PS venha a ultrapassar a coligação.
Mais à frente no painel, a antiga ministra reiterou: "Imaginando que o PS - repito, é altamente improvável - tinha mais mandatos ou, havendo empate de mandatos, tinha mais votos do que a coligação, aí não tenho dúvidas de que [...] o Presidente da República deveria chamar a formar Governo o PS e a direita ficar com o ónus, aliás, juntamente com o Chega, de deitar abaixo o Governo do PS, neste cenário que, já comecei por dizer eu própria, é altamente improvável".
Alexandra Leitão recusou que a responsabilidade de governabilidade esteja do lado do PS caso os resultados da emigração não alterem o panorama atual de uma vantagem da AD sobre os socialistas.
"As pessoas esperam que o PS seja o líder da oposição, que tem um programa alternativo para o país, que tem um conjunto de opções diferentes para resolver os problemas do país, e por isso mesmo não vale a pena pressionar o PS para se transformar numa espécie de muleta do Governo", vincou, lembrando que "a direita é maioritária na Assembleia da República e, portanto, todos têm de ser responsabilizados".
Já António Lobo Xavier não estranha e desvaloriza as críticas que são feitas a Marcelo Rebelo de Sousa por ter começado a ouvir os partidos antes da contagem dos votos da emigração, considerando que não acredita que alterem o resultado eleitoral.
"A chave da leitura dos resultados eleitorais é entregue ao Presidente da República e o Presidente da República tem a leitura de que já passou bastante tempo, deve começar a ouvir os partidos e não faz mal nenhum ouvir os partidos ainda que ao milímetro não estejam completamente fechadas as contagens de votos. Vamos agora inventar que existe a possibilidade de uma espécie de esmagamento total do PS nos círculos que falta contar e que isto nos vai voltar outra vez atrás. Se acontecesse essa coisa absolutamente improvável e ridícula de conceber, voltava-se outra vez a ouvir os partidos. Estamos com vontade de criticar tudo. O Presidente da República vai conversando com os partidos que concorreram às eleições e estamos com vontade de criticar tudo", defendeu Lobo Xavier.
O advogado e membro do Conselho de Estado diz ainda que não sabe como a AD vai governar, mas lembra que o PSD negociou muitos diplomas na altura do Governo socialista.
"Nós não sabemos como é que se vai governar, não sabemos como é que uma coligação com uma maioria escassa vai governar. É completamente estulto começar a falar dos orçamentos. Sei lá o que é que vai acontecer no Orçamento, não faço a menor ideia. Se a AD vai dar alguma coisa ao PS? Não sei, acho que AD vai governar permanentemente em negociação. Como é que essas negociações se farão? Não sei, mas basta olhar, por exemplo, coisa que até tinha sido denunciado pelo Chega na campanha eleitoral, quantas vezes o PSD suportou as iniciativas do PS. Foram inúmeras, uma percentagem elevadíssima. Não sei de 70 ou mais de 70% do PSD suportou as iniciativas do PS e não vejo ninguém a fazer chantagem sobre o PS. Talvez comentadores, mas não é a isso que ligo", admitiu o advogado.
Já José Pacheco Pereira considera que o que aconteceu nos Açores se vai repetir na Assembleia da República: um entendimento parlamentar entre a coligação que governa e a oposição, incluíndo o Chega.
“A constituição do Governo e a votação do Governo dos Açores foi adiada para depois das eleições. Porque é que foi adiada para depois das eleições? Porque agora há uma nova tese que é engraçada quanto às relações entre a AD e o Chega, que é: muito bem, não é não, mas há um sítio onde o não é não, que é no Parlamento e, portanto, é possível discutir no Parlamento, o que significa negociar no Parlamento aquilo que teoricamente os partidos não estão dispostos a negociar em público, mas é uma negociação, como é óbvio. Houve negociação nos Açores e essa negociação, o pretexto de ela ser parlamentar, não lhe retira a característica de negociação. Há muita coisa que talvez fosse mais importante do que algumas minudências jurídicas. Não tenho dúvida nenhuma porque ouço os comentários das pessoas da AD, das pessoas próximas da direção de Montenegro, das pessoas que são favoráveis ao entendimento com o Chega - e há muitas no PSD e algumas com lugares relevantes. O que eles admitem para esta situação de impasse político é uma negociação na Assembleia. Essa negociação não é certamente com o PCP nem com o Bloco de Esquerda. Ou é com o PS ou é com o Chega, não era preciso estar a enunciar essa negociação, essas conversações ou esses entendimentos se fossem com o PS. Aliás, quando eu digo que há uma dominação da agenda de direita, repare no seguinte: alguém discute, por exemplo, se o PS apoiar o orçamento, quais são as concessões que a AD vai fazer ao PS?”, questiona Pacheco Pereira.
A AD, que junta PSD, CDS e PPM, com 29,49%, conseguiu 79 deputados na Assembleia da República, nas eleições legislativas de 10 de março, contra 77 do PS (28,66%), seguindo-se o Chega com 48 deputados eleitos (18,06%).
A IL, com oito lugares, o BE, com cinco, e o PAN, com um, mantiveram o número de deputados. O Livre passou de um para quatro eleitos enquanto a CDU perdeu dois lugares e ficou com quatro deputados.
Estão ainda por apurar os quatro deputados pela emigração, o que só acontece na quarta-feira.