Ana Catarina Mendes alerta que língua portuguesa "não deve ser fator de exclusão" para entrada de imigrantes
Em declarações à TSF, a antiga governante afirma que, ainda assim, compreende as palavras de Jorge Miranda, que defendeu que quem quiser imigrar para Portugal tem de saber falar português
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Ana Catarina Mendes, antiga ministra com a tutela da imigração no Governo de António Costa, compreende as declarações do constitucionalista Jorge Miranda, mas alerta que não saber falar português não pode ser motivo para rejeitar a entrada de imigrantes em Portugal.
Em declarações citadas pela agência Lusa, Jorge Miranda, considerado o pai da Constituição portuguesa, defendeu que quem quiser imigrar para Portugal tem de saber falar português como "método de integração". O constitucionalista sublinhou ainda que nada tem contra a imigração e que fechar as portas não é solução, mas saber a língua portuguesa deve ser obrigatório. “Eu sou muito favorável à imigração, antes de mais nada, por uma questão de fraternidade humana. Nenhum país pode fechar-se ao resto do mundo”, disse.
Ouvida pela TSF, Ana Catarina Mendes entende as palavras de Jorge Miranda, mas avisa que a língua não deve ser fator de exclusão. "Diria que divirjo um pouco da visão do professor Jorge Miranda, tanto quanto consigo perceber é que seja condição para acolher imigrantes falar o português. Eu acho que a questão do português deve ser parte da integração de quem aqui chega ou de quem aqui quer chegar poder ser integrado pela língua e, desse ponto de vista, estou totalmente de acordo", explica à TSF a antiga governante.
Ana Catarina Mendes compreende também "a preocupação do professor Jorge Miranda com os países da CPLP". Ainda assim, sublinha que "por isso é que já hoje existe um conjunto de instrumentos que são mais facilitadores da integração ou da vinda de cidadãos oriundos dos países da CPLP, desde logo nos vistos, que são mais céleres".
"É evidente que a questão da língua não se coloca nestas pessoas, não podemos excluir todos os outros que não falam português, temos de ter programas para ensinar o português para que a integração seja mais fácil e seja fator de inclusão social", afirma.
Questionada sobre a importância da língua como fator de integração, a antiga ministra acredita que aquilo que se passa em Portugal demonstra isso mesmo.
"Ainda ontem [sexta-feira] visitei uma escola em Torres Vedras, que também tem um projeto de português, língua de acolhimento, e tanto quanto sei as escolas vão fazendo isso. A ideia que eu tive na altura foi que não fossem apenas as escolas, nem apenas os centros de emprego, mas que se pudesse ter um plano nacional, que ficou na parte da transição, espero que seja executado, porque é evidente que se uma pessoa não consegue comunicar, é muito difícil incluir-se ou integrar-se na sociedade", considera, acrescentando que a língua "é um fator decisivo para a plena integração".
"Não deve ser um fator de exclusão, deve ser um fator de integração, mais do que uma condição para que a pessoa possa imigrar para Portugal", refere.
