Crianças com idades entre os 3 e os 5 anos foram ao Museu do Douro, na Régua, mostrar que já sabem o significado de um cravo vermelho e cantar a “Grandola Vila Morena”
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A ilustradora Sónia Borges está sentada no chão, junto a um vidro partido do Serviço Educativo do Museu do Douro, sediado na cidade de Peso da Régua. Nele, desenha bonecos e palavras alusivas ao 25 de Abril de 1974, entre outros dizeres relacionados com a liberdade.
À frente dela sentam-se duas dezenas de crianças, com idades entre os 3 e os 5 anos. Frequentam o Jardim de Infância da Santa Casa da Misericórdia de Peso da Régua. Mostram-se interessados. A lição foi estudada com a educadora Lina Barros, que os acompanha.
“O que é que vocês acham que representam estes bonecos, qual é a história que está aqui?”, pergunta Sónia Borges. Há respostas para todos os gostos, relacionadas ou não. Mas lá sai um “é o 25 de Abril”, ou um “é a liberdade”, ou “são cravos vermelhos”. Lina Barros ajuda: “Os militares revoltaram-se, não foi? Fizeram uma revolução com cravos vermelhos, sem armas”. E eles: “Siiiim”.
Mas há um que repara que os cravos, “em baixo, não são brancos, são verdes”. “Em cima pintaste bem, mas em baixo não”, reforça, enquanto a ilustradora lhe dá razão. “É giro pensar com eles que uma coisa é o desenho e outra é a realidade”, diz Sónia Borges, que lembra que se pode “brincar com ela”. “Não foi por estar branco que ele deixou de reconhecer e associar o cravo”.
Para Lina Barros, a importância do 25 de Abril e dos seus símbolos deve ser conhecida desde tenra idade, pois “a liberdade não está adquirida e é bom para eles saberem a sua importância e tudo o que envolve aquela data”.
As crianças despedem-se com canções que marcaram a Revolução dos Cravos, entre as quais a “Grândola Vila Morena”, de Zeca Afonso, antes ensaiada no jardim de infância.
A atividade faz parte da iniciativa “Cartas da Liberdade e da Paisagem” que o Museu do Douro tem em curso para celebrar os 50 anos do 25 de Abril de 1974.
Neste âmbito, o museu de território, com sede em Peso da Régua, desafiou a comunidade a partilhar cartas escritas, em áudio, vídeo ou militares.
Samuel Guimarães, coordenador do Serviço Educativo do Douro, explica que a iniciativa assenta em duas perguntas: “O que é que pode ser a liberdade?” e “O que é que pode ser a paisagem?”. Isto permite que “dentro da ideia do que é uma forma de carta, haja alguma coisa escrita, um desenho, uma fotografia, feitos sempre a pensar em alguém, nas outras pessoas e no que somos como comunidade”.
A iniciativa, que arrancou no final de 2023 e se prolonga para 2025, envolve alunos do ensino pré-escolar ao secundário e ao profissional de escolas de Peso da Régua, Santa Marta de Penaguião, Mesão Frio, Vila Real, Sabrosa e Lamego.
O objetivo é “refletir sobre o que é viver em democracia”, segundo Samuel Guimarães, já que “é fundamental que um museu que trabalha sobre uma paisagem que importa cuidar [é Património Mundial da UNESCO desde 2001]”, também transponha esse cuidado para a democracia, que “tem de ser cuidada e nutrida”.
