Ângelo Correia diz que vitória da AD foi "meramente matemática" e acredita que haverá eleições em breve
Em declarações à TSF, o social-democrata considera que o novo Governo estará "inibido de fazer as reformas que pretender, a não ser que o Chega consinta e negoceie com a AD" e afirma que "dizer que não há canais entre o PSD e o Chega é falso".
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O antigo ministro da Administração Interna do Governo liderado por Francisco Pinto Balsemão, Ângelo Correia, considera que a vitória que a AD conseguiu este domingo nas eleições "foi meramente matemática" e não acredita que esta legislatura dure muito tempo, deixando a decisão de acordos com o Chega para a direção do PSD.
"A minha resposta não é relevante, porque o que é relevante é o estado de espírito que a direção do PSD sentia em algum momento. Só há eficácia política se a direção do partido entender que deve mexer-se, que deve alterar padrões. Simplesmente há um problema fundamental que a direção do partido se confronta com ela própria. A direção do Partido não pode ter duas vozes diferentes sobre o mesmo assunto, sobre o mesmo problema perante o país, senão ficaria com falsa. Isso, em termos políticos, era catastrófico", diz Ângelo Correia à TSF, admitindo que "os caminhos são tão sinuosos, são tão labirínticos, nos próximos meses que é preciso ser génio para conseguir escapar às dificuldades".
O social democrata acredita que o futuro Governo liderado por Luís Montenegro não terá vida facilitada: "Tem um poder muito limitado porque à frente da coligação PSD/CDS, se quiser com a Iniciativa Liberal, há uma maioria de esquerda que é maior do que esta, mais dilatada do que esta. À direita há uma força que é o Chega que tem peso suficiente para colocar problemas, por isso a capacidade que o Governo da Aliança Democrática vai ter fruto desta vitória - a palavra vitória tem um sabor meramente matemático, não tem um sabor político - na exata medida em que este Governo está dependente de uma das duas força. Ora, uma dessas forças foi clara: não vai sustentar o Governo da AD. [Do outro lado está o Chega,] cuja posição é discricionária. Para ser claro, a AD depende do Chega. Ora, a AD não quis, nem quer, nem quererá, pelas vozes dos seus líderes atuais, qualquer relação com o Chega. A pergunta que se faz é: mas quererá não chega ajudar o PSD? Por quê? Isso é uma questão de fundo, portanto, esse é o espaço e o contexto em que estamos mergulhados nos próximos meses e que não tem resposta fácil."
Ângelo Correia considera que "Portugal está num embrulho, está num equívoco, está num labirinto", e não acredita que esta legislatura que agora vai nascer tenha uma vida longa.
"Provavelmente [vai haver eleições em breve] e, se calhar, quem vai fixar o tempo dessas decisões nem será o Governo. Agora, isso não inibe, apesar de tudo, o Governo de existir com toda a sua consistência constitucional, legal, política e vai existir e esse governo tem uma coisa: está inibido, no meu ponto de vista, de fazer as reformas que pretender, a não ser que o Chega consinta e negoceie com a AD. Dizer que não há canais entre o PSD e o Chega é falso. São precisos existirem a partir de agora para aquilo da legislação estrutural que o PSD considera relevante e tem que ser discutidas que o Chega", argumenta.