Antiga secretária de Sá Carneiro não concorda com a estratégia assumida pelo líder eleito, mas garante que Rio poderá "contar sempre" com ela. Em entrevista à TSF, Conceição Monteiro fala do passado e do futuro do PSD e diz ter esperança de que o partido conquiste uma grande vitória nas legislativas.
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Aos 84 anos, Conceição Monteiro, mulher cuja história se funde com a do partido para o qual escolheu a cor laranja e é militante número dois, conta que conheceu Francisco (Sá Carneiro) ao vê-lo numa entrevista à RTP1 na altura do 25 de Abril e se "encantou" com a ideia que ele tinha para o país, decidindo inscrever-se como voluntária para trabalhar com ele na fundação do PPD/PSD.
Em entrevista à TSF, a primeira mulher social-democrata confessa o enorme amor que tem ao PSD, apesar dos mais de quarenta anos que passaram, e recorda que foi o partido pensado por Sá Carneiro que a conquistou desde a primeira hora. "Aquilo que ele queria, que ele desejava, que ele projetava tinha sempre a pessoa, o ser humano, no centro das suas políticas, das suas ambições para o país", descreve, sublinhando que Sá Carneiro "antevia um futuro em que Portugal seria francamente equiparado aos países mais civilizados da Europa".
Olhando para o passado e presente do PSD, Conceição Monteiro afirma que "nem sempre esteve de acordo com a linha orientadora do partido" nos seus 44 anos de história, mas o amor mantém-se muito forte: "apesar de tudo, é o meu partido. É o partido que ajudei a fundar - foi um parto difícil e doloroso, mais valeu bem a pena, porque o filho é grande, cresceu, desenvolveu-se", explica, asseverando que "por dinheiro nenhum no mundo" seria capaz de fazer as críticas que vê e ouve alguns colegas de partido tecer nos meios de comunicação social.
Santana Lopes, o preferido
Aquela que será sempre "a secretária de Sá Carneiro" acredita que Pedro Santana Lopes é o antigo líder do partido "que mais encarna" os princípios do fundador e confessa que, nas diretas de 13 de Janeiro, acreditava que o antigo presidente da Câmara de Lisboa pudesse regressar à liderança. A vitória de Rio, assume, "cortou-lhe o coração".
"Sem dúvida nenhuma que cortou. Rui Rio não me encanta como pessoa", conta Conceição Monteiro, que reconhece, no entanto, que Rio "é um homem de uma honestidade a toda a prova, muito competente, embora não tenha aquela chama, aquele coração, aquela alma de que a pessoa esteja no centro das suas políticas".
"Chorei um bocadinho naquela noite"
Acalentando sempre a esperança de que Santana Lopes pudesse suceder a Passos Coelho, na noite das eleições diretas - a 13 de janeiro - Conceição Monteiro tive de lidar com uma das muitas das derrotas a que já assistiu no PSD. "Chorei um bocadinho naquela noite", confessa, considerando que, para si, foi mesmo "muito triste" saber que Santana tinha sido derrotado. Mas não desanima.
Sabendo, através dos media, que o seu favorito tinha sido convidado para ser cabeça de lista ao Conselho Nacional social-democrata, Conceição ficou "muito feliz", assumindo-se "convencida de que o Rui pode contar com o Pedro, porque o amor do Pedro ao partido é quase como o meu."
Reconhecendo que atualmente o Conselho Nacional tem pouco peso nas estruturas do partido, defende que Santana pode, apesar disso, ser uma mais-valia. "Uma presença como o Pedro para chamar a atenção para alguns pontos estou convencida que pode ser frutuosa para o partido", acrescenta, considerando que pode dar à estrutura "o lado mais humanista do partido".
Desde a eleição do novo líder, Conceição Monteiro nunca foi contactada ou falou com Rui Rio ao contrário do que acontece com o seu último adversário e antigo primeiro-ministro com quem fala com frequência, ainda que nas últimas semanas só "por telefone ou SMS".
Adepta de uma militância fervorosa, cofundadora do maior partido da direita acha que, no futuro próximo, liderado por Rio, os dirigentes e militantes vão estar com ele. "As pessoas podem estar contra e não estar de acordo com a estratégia dele, mas estou convencida de que todos vão colaborar".
António Costa só vai bater à porta de Rui Rio quando lhe convier"
Questionada sobre se partilha das críticas de muitos no partido à nova liderança, a histórica social-democrata concorda: "Não acho que seja uma estratégia (a defendida por Rio) correta. Por mim, nunca apoiaria esta solução dos governos das esquerdas e muito menos o PS em certas circunstâncias.
O PS teve um comportamento que não era o do PS do meu tempo", garante, considerando que Costa" só vai bater à porta de Rui Rio quando lhe convier, não por opção", juntando outra certeza: "muitos militantes do Partido Socialista não o vão deixar bater à nossa porta, vão preferir que ele vá bater à porta do Bloco de Esquerda".
A muito desejada vitória expressiva do PSD
Para Conceição Monteiro, a melhor estratégia do líder social-democrata seria "sem dúvida" assumir desde já que a pretensão é vencer as legislativas. "De cabeça começar a pugnar, não digo por uma maioria absoluta sozinhos, porque isso seria difícil, mas (consegui-lo) com o nosso parceiro preferencial que é sempre o CDS e nunca o PS e muito menos as esquerdas radicais."
E, para isso, deseja um futuro risonho ao antigo autarca portuense, com uma vitória. "Espero que o Rui tenha um excelente resultado e que possa puxar por este país que tanto merece e que tanto sofreu com o estado em que o engenheiro Sócrates o deixou e com a Troika".
Ganhar as eleições, explica a antiga secretária de Sá Carneiro, para que Rio possa dar ao país "um governo diferente. Ele é suficientemente trabalhador e capaz para puxar este país para cima".
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