Numa entrevista à TSF e ao Jornal de Notícias, o presidente da CCDR-Norte, um regionalista convicto, lamenta que não se tenha feito o referendo sobre a regionalização. E admite que gostava fazer um segundo mandato.
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O presidente da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Norte (CCDR-N) diz que o cenário de ver realizar um referendo sobre a regionalização, durante o Governo PS, “foi um raio de esperança que trouxe uma nova visão e um avanço no caminho para uma república de proximidade”. O certo é que o referendo não se realizou e a oportunidade para o que António Cunha chama “um salto” está afastado.
De resto, na Grande Entrevista TSF-JN desta semana, António Cunha assume-se como regionalista convicto e reconhece que “neste momento a regionalização é uma palavra que tem muitos anticorpos, mesmo na sociedade portuguesa”. “Eu posso discordar”, sublinha o antigo presidente do Conselho de Reitores das Universidades Portuguesas, mas de tem “aceitar e perceber”.
Mas não desiste do tal salto. António Cunha diz que “o caminho é o de reforçar as competências dos níveis regionais” e “demonstrar que essa é uma aposta vencedora e que as populações vão sentir uma diferença positiva nesse novo quadro de decisão”. A regionalização “será o passo depois de darmos provas de que o nível de decisão regional é importante, e que garante melhores condições de vida e desenvolvimento aos portugueses”, conclui António Cunha.
Desafiado pela TSF e pelo JN a apontar culpados entre o antigo primeiro-ministro António Costa, o Presidente da República e o atual chefe do Governo, Luis Montenegro, o presidente da CCDR-N responde que não é "adequado encontrar culpados", e os três agentes políticos referidos “têm vindo a referir o seu compromisso com um nível de decisão regional mais forte, com um reforço das competências das comissões de coordenação”. Mas reconhece que “o modelo e a velocidade com que isso se faz tem nuances e é diferente para cada um desses agentes”, além de depender “dos contextos políticos”. Nesse sentido, António Cunha até elogia o ministro Adjunto e da Coesão, Castro Almeida, remontando com a frase “a minha esperança continua viva”.
Nesta entrevista, António Cunha defende um reforço dos orçamentos ou, pelo menos, uma não redução das verbas. Sobre a recente alteração das NUT2, na região de Lisboa e Vale do Tejo, isolando estatisticamente a região do Oeste e a península de Setúbal, e abrindo a porta dos fundos europeus que não chegariam de outra forma, o presidente da CCDR-N assume que preferia que estas regiões e outras zonas da Grande Lisboa, mais pressionadas por problemas sociais e de desenvolvimento deveriam receber investimentos diretos do Orçamento do Estado. “O problema é que o OE não chega para tudo”, explica António Cunha, acrescentando o país devia ser capaz de gerar mais riqueza. “Se Lisboa for a capital de um país mais rico, terá mais riqueza, nomeadamente para gerir os projetos e garantir a qualidade de vida de que precisa”, detalha António Cunha.
Sobre os eventuais impactos negativos no crescimento do Aeroporto Francisco Sá Carneiro, quando for construído um aeroporto novo em Alcochete, António Cunha garante que não existirão, e também não acha que o Aeroporto do Porto esteja a desperdiçar a saturação do Aeroporto de Lisboa. O líder da Região Norte aponta para a necessidade do aeroporto do Porto “crescer mais, em rotas europeias e sobretudo em rotas intercontinentais”. As regiões servidas pelo aeroporto de Pedras Rubras, além do Norte, são o Centro de Portugal e a Galiza, no Norte de Espanha. “Esse é o caminho, que passará por um novo terminal e poderá mesmo passar por uma nova pista”, antecipa António Cunha, que revela um crescimento contínuo de passageiros, nos últimos anos.
O também antigo reitor da Universidade do Minho lembra que nos próximos dez anos - o prazo mínimo previsto para construção do novo aeroporto de Lisboa –, haverá uma alteração importante na mobilidade que será a chegada da ferrovia de alta velocidade. E deixa um reparo ao atraso noutro comboio: “A eletrificação da Linha do Douro já devia estar na Régua e no Pocinho há muito tempo!”
António Cunha está a um ano de terminar o mandato. Ele foi o primeiro presidente da CCDR-N eleito e não nomeado. A eleição é feita por um colégio eleitoral composto pelos presidentes de câmara das autarquias que integram a Região Norte. Questionado pela TSF e pelo JN sobre a manutenção do apoio do PSD e do PS, que viabilizaram a sua eleição, e a vontade de fazer um segundo mandato, António Cunha responde: “É indiscutível que eu gosto deste desafio.” Mas logo acrescenta que “qualquer decisão nesse sentido terá de basear-se em perceber se temos condições para o executar”. E mesmo lembrando que é importante o acordo entre os dois maiores partidos, lembra que, no próximo ano há eleições autárquicas e são os resultados dessas eleições “que definem o colégio eleitoral que irá escolher o novo presidente da CCDR-N”.
