Ao longo das últimas três décadas, foram muitos os críticos de Cavaco Silva. A TSF falou com duas das figuras para quem o "cavaquismo" não vai deixar boas memórias: Carlos Carvalhas e Manuel Carvalho da Silva.
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Durante anos, fizeram frente a Cavaco Silva, censuraram declarações e tomadas de posição, deixaram bem vincadas as críticas aos traços de personalidade e, sobretudo, identificam-no como um político com uma agenda própria.
Carlos Carvalhas, secretário-geral do PCP durante 12 anos; e Manuel Carvalho da Silva, coordenador e secretário geral da CGTP-IN durante um quarto de século, não têm dúvidas quanto ao legado do "cavaquismo": foi negativo e está ligado aos piores períodos do país.
Carlos Carvalhas
"Como presidente da República teve sempre uma postura sectária, partidária e que colocou, muitas vezes, os interesses dos grandes senhores do dinheiro e dos banqueiros acima dos interesses do povo e do nosso país", afirma Carlos Carvalhas.
Recordando o período durante o qual Cavaco Silva exerceu as funções de chefe de Estado, o ex-secretário-geral comunista aponta ao ainda Presidente da República alguns "momentos de normalidade", mas, no essencial, e lembrando os últimos 30 anos, considera que o desempenho na vida política portuguesa foi "objetivamente e globalmente negativo".
O ex-conselheiro de Estado durante os mandatos presidenciais de Jorge Sampaio identifica ainda Cavaco Silva como alguém que sempre revelou "grande submissão à União Europeia" e, mais recentemente, não esquece "aquilo que fez para não dar posse" à solução governativa apresentada por António Costa depois das últimas eleições legislativas.
"Creio que a história o julgará e não julgará positivamente", conclui o antigo secretário-geral do PCP.
Carvalho da Silva
Carvalho da Silva, coordenador e secretário-geral da CGTP-IN entre 1986 e 2011, define Cavaco Silva como um "propagandista e um executor" do pensamento neoliberal.
O antigo dirigente sindical deixa críticas à "falta de sensibilidade social" demonstrada por Cavaco Silva, nos momentos em que os portugueses mais precisaram de um primeiro-ministro e de um chefe de Estado atento ao "social".
"Num cenário em que os objetivos eram marcadamente positivos, Cavaco Silva até mostra uma sensibilidade social, mas quando se chega aos tempos de aperto, ele não percebe", constata Manuel Carvalho da Silva.
Para o sindicalista e sociólogo, o ainda chefe de Estado sempre demonstrou "fragilidades" quando foi confrontado com a "dimensão do social e do cultural" e, nesse sentido, considera que, mesmo tendo exercido funções em Belém e São Bento, Cavaco Silva "não terá grande relevo" no registo histórico do país.
Ainda assim, Carvalho da Silva defende que Cavaco Silva será sempre lembrado: "Vai ficar presente por ter andado no terreno e não ter contribuído muito para a mudança de que o país precisava".
Analisando as prioridades dos períodos de governação e de presidência, o histórico líder da CGTP-IN considera também que ficam marcados por uma "sobreposição do poder económico e financeiro sobre todos os outros poderes e, em particular, sobre o poder político".