As "lágrimas de crocodilo" do Chega, os problemas na recolha do lixo em Lisboa e o alerta para os discursos "falaciosos e populistas"
Arranca esta quarta-feira o nono dia de campanha para as autárquicas. Acompanhe tudo na TSF
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O presidente do Chega, André Ventura, considerou que as declarações do antigo primeiro-ministro Pedro Passos Coelho mostram que há um “renascimento da direita” e acusou o PSD de estar adormecido.
À margem de uma iniciativa de campanha autárquica no Entroncamento, distrito de Santarém, o presidente do Chega foi questionado sobre as palavras do antigo primeiro-ministro social-democrata de que não devem existir linhas vermelhas com o Chega sobre eventuais entendimentos autárquicos.
“A frase é importante porque o que eu acho que mostra é que está a haver um renascimento da direita em Portugal, e esse renascimento da direita significa, como o doutor Pedro Passos Coelho já disse, aliás, noutros momentos, não é uma questão de barreiras partidárias, é uma questão de que a direita tem que se assumir naquilo que é, firme no combate à corrupção, firme no combate à imigração legal, firme pela segurança, mesmo quando isto custa à esquerda, firme na defesa das pessoas que trabalham, contra as minorias que não trabalham”, afirmou.
André Ventura considerou que houve um “reacordar da direita” e afirmou que “houve uma evolução do doutor Pedro Passos Coelho" e "claramente não houve essa evolução do doutor Luís Montenegro”.
“Estas pessoas que vocês veem, este movimento, isto é o reacordar da direita em Portugal, e é importante que este reacordar se materialize agora nas autárquicas, nas presidenciais e nas legislativas, quando elas chegarem, acho que foi isso só”, acrescentou.
Os líderes do PSD e do CDS-PP juntam-se esta quarta-feira num jantar-comício em Santarém, enquanto o secretário-geral do PS divide a agenda entre Coimbra e Bragança e o Livre e BE começam o dia numa ação comum em Oeiras.
O presidente do PSD e primeiro-ministro, Luís Montenegro, começa o nono dia de campanha autárquica em Castelo Branco, num almoço, seguindo-se uma ação de contacto com os eleitores, em Tomar.
O dia de Luís Montenegro encerra com um jantar-comício no distrito de Santarém no CNEMA - Centro Nacional de Exposições e Mercados Agrícolas. A este jantar junta-se o líder do CDS-PP, Nuno Melo, parceiro de coligação dos sociais-democratas no concelho.
Antes, Nuno Melo estará, esta manhã, na Feira da Vigia, no concelho de Vagos, Aveiro, onde também vai almoçar, e depois segue para uma ação de campanha em Oliveira do Bairro.
O líder do PS, José Luís Carneiro, tem agenda matinal, com uma ação de campanha às 10:30 no centro de saúde de Condeixa-a-Nova, distrito de Coimbra, de onde parte para um almoço em Montemor-o-Velho. Ao fim da tarde, tem nova ação de campanha marcada para o Largo da Portagem, no centro de Coimbra, e termina o dia em Bragança.
O secretário-geral do PCP, Paulo Raimundo, lidera a caravana da CDU no Alentejo, com uma ação de contacto com a população, de manhã, em Beja, e outra em Aljustrel durante a tarde. O dia termina com um jantar-comício no Parque de Feiras e Exposições de Santiago do Cacém.
André Ventura, presidente do Chega, começa o dia na Guarda, com uma ação de campanha no concelho do Sabugal, de onde segue para Mangualde, distrito de Viseu, ao meio dia. Ao fim da tarde, tem agenda em Vale de Cambra e encerra o dia em Aveiro.
A presidente da IL, Mariana Leitão, tem apenas agendada uma participação, ao fim da tarde, numa ação de rua, no Porto, da candidatura da coligação liderada por Pedro Duarte (PSD/CDS/IL).
O co-porta-voz do Livre Rui Tavares tem uma agenda cheia, que arranca às 09:30 numa ação de campanha em Oeiras, a que se juntará também a coordenadora do Bloco de Esquerda, Mariana Mortágua.
A comitiva do Livre segue para uma arruada pelas freguesias lisboetas de Alvalade, Areeiro e Alameda e, ao início da tarde, Rui Tavares estará em Rio Maior, numa visita às salinas do concelho. Termina o dia em Coimbra, com uma visita à delegação centro da Assistência Médica Internacional (AMI) e uma arruada na baixa da cidade.
Mariana Mortágua, que se juntou esta terça-feira à campanha bloquista, tem agendada uma arruada junto à estação de comboios da Amadora durante a tarde, e fecha o dia com uma festa-comício em Almada, acompanhada de Paulo Muacho, deputado do Livre.
Inês de Sousa Real, porta-voz do PAN, começa o dia na Figueira da Foz, com uma visita à associação de proteção animal Apaff, a que segue uma visita à associação Casa, de apoio a pessoas sem-abrigo, em Coimbra. Para a tarde, tem a agenda reservada para um arruada e um comício em Coimbra, de apoio à coligação liderada pela socialista Ana Abrunhosa.
O presidente do PSD acusou o Chega de “falar muito e fazer pouco” em matéria de imigração e chorar “lágrimas de crocodilo”, pedindo em Albufeira que não acreditem num candidato que andou “a saltar de sítio em sítio”.
Luís Montenegro falava num jantar-comício em Albufeira, no distrito de Faro, de apoio a José Carlos Rolo, que concorre a um segundo mandato à presidência da Câmara numa coligação PSD/CDS-PP, onde os temas fortes foram a segurança e imigração.
Tal como já tinha feito em Quarteira, à tarde, o também primeiro-ministro voltou a responsabilizar Chega e PS por não haver mecanismos rápidos de afastamento de imigrantes em situação ilegal, por terem ‘chumbado’ no ano passado uma iniciativa legislativa do Governo com esse objetivo.
Em particular, visou o líder do Chega, André Ventura, que disse que a libertação dos cidadãos marroquinos intercetados em agosto no Algarve por ter sido ultrapassado o prazo máximo de detenção “envergonha o país”.
“Quando vemos a indignação, só podemos acreditar que se trata de lágrimas de crocodilo, de quem fala muito, mas resolve pouco ou nada”, criticou Montenegro.
O líder do PSD já tinha deixado uma crítica semelhante ao candidato do Chega à Câmara de Albufeira, o deputado Rui Cristina, que se desfiliou do PSD em janeiro de 2024.
“Sobre aqueles que se pré anunciam como capazes de resolver tudo, eu acho que é justo dizer que não se lhes conhece nenhuma resolução de nada em concreto, com exceção de uma: a capacidade de saltarem de sítio em sítio”, disse.
“Em três ou quatro anos saltar quatro ou cinco vezes são, de facto, demonstrações de um espírito de resolver muito apurado”, ironizou, sem nunca dizer o nome de Rui Cristina, que já foi deputado por Faro, Évora e Beja.
No dia em que comemorou 25 anos de casado – talvez por isso o jantar teve direito a dois pratos -, e com a mulher ao lado, o também primeiro-ministro focou-se igualmente nas questões da segurança.
“É necessário que haja mais policiamento, mais visibilidade, mais prevenção e uma adequação entre decisões que são municipais com decisões que são nacionais”, defendeu.
O recandidato a presidente da Câmara de Lisboa, Carlos Moedas, recebeu o apoio do ex-presidente do CDS-PP Paulo Portas, do eurodeputado Sebastião Bugalho e do ministro Gonçalo Matias, que apelaram ao voto e reforçaram que “nada está ganho”.
Numa arruada desde a Alameda Dom Afonso Henriques até à Praça Paiva Couceiro, a comitiva da coligação “Por ti, Lisboa” - PSD/CDS-PP/IL andou de porta em porta no apelo ao voto, enquanto ouvia problemas da população, sobretudo relacionados com imigração e habitação.
“Devia dar mais apoio aos imigrantes”, comentou um trabalhador imigrante num ‘snack-bar’ na Praça do Chile, em Arroios. Reconhecendo que há ali “muitas dificuldades”, Carlos Moedas lembrou a retirada de tendas junto à Igreja dos Anjos.
No meio do percurso, o autarca do PSD foi confrontado por um munícipe que o acusou de “dar casas à imigração ilegal” e a pessoas que ocupam ilegalmente habitações, situações que Carlos Moedas rejeitou: “Eu não defendo os ocupas”, disse.
“Todas as felicidades, menos uma: que não ganhe a câmara novamente”, referiu um lisboeta, ressalvando que Carlos Moedas é “boa pessoa, honesto e competente”.
Um outro munícipe confidenciou: “Vou votar em si, porque o senhor deu alguma coisa aos lisboetas ao contrário do senhor Medina [anterior presidente socialista da Câmara de Lisboa] que nunca deu nada”.
No início da arruada, o antigo presidente do CDS-PP Paulo Portas assegurou que Carlos Moedas contará com o seu voto e aos eleitores para que “não se abstenham”, reforçando que nas autárquicas de domingo “por um voto se ganha, por um voto se perde”.
“Não tenho nenhuma dúvida que Carlos Moedas fez mais em quatro anos do que muitas maiorias absolutas lideradas pelo PS em 14 [à frente da Câmara de Lisboa]. Por alguma razão, em 2021 as pessoas quiseram mudança”, salientou.
O candidato da CDU (PCP/PEV) à Câmara Municipal de Lisboa, João Ferreira, acompanhou um circuito de recolha de resíduos na Baixa para defender melhores condições salariais e de carreira para os trabalhadores da higiene urbana.
Antes de subir a bordo de um camião de recolha de resíduos, que andou pela Baixa e Mouraria, João Ferreira alertou para a falta de meios materiais e humanos de “um serviço fundamental”, que é duro, que levanta muitas queixas dos cidadãos e cujos trabalhadores “deviam ser reconhecidos de uma outra forma”.
“A resolução do problema passa indiscutivelmente por um reforço de meios, materiais e humanos, que os alivia desde logo. Muitos deles estão pressionados no trabalho que têm de fazer, nos circuitos que têm de fazer, até nas folgas que podem ou não gozar. Isto só se resolve com a contratação de mais profissionais, com melhoria da sua situação material, melhores salários, melhores carreiras”, defendeu João Ferreira.
Apesar de ser uma competência do Governo, João Ferreira considerou “absolutamente crucial” uma intervenção da Câmara para eliminar o SIADAP, o sistema de avaliação de desempenho na Administração pública, “que impede as progressões nas carreiras” destes trabalhadores.
“A Câmara Municipal de Lisboa terá de colocar esta questão em cima da mesa. Este é um sistema que não pode ser mais aplicado”, disse.
Por outro lado, o candidato defendeu “uma aspiração muito grande e muito antiga” destes trabalhadores, que é “o reconhecimento desta profissão como uma profissão de desgaste rápido”, afirmando que será uma das primeiras questões que a CDU colocará em cima da mesa.
O candidato comunista destacou que, ao contrário de outras candidaturas, a CDU está empenhada “em falar de soluções para os problemas da cidade”, com “conhecimento de causa, a partir da realidade concreta da cidade”.
João Ferreira acusou o PS de tentar esconder “fragilidades próprias” e “convergências com o PSD”, quando questionado sobre declarações do líder socialista, José Luís Carneiro, que, sem nomear o PCP, considerou que só não participou na coligação PS/Livre/BE/PAN quem não quis.
“Era expectável que as atenções do PS estivessem mais concentradas no ataque ao PSD do que propriamente à CDU. Mas a verdade é que a realidade é marcada por um conjunto de convergências ineludíveis em aspetos estruturantes da gestão da cidade entre PS e PSD”, afirmou.
O líder do PS pediu na terça-feira aos portugueses que não se deixem encantar por discursos “falaciosos, demagógicos e populistas” nas autárquicas, comparando com as promessas de “tudo e a todos” do Governo que deixaram uma situação “muito pior”.
José Luís Carneiro - que subiu ao palco do comício noturno no Barreiro avisando que já não tinha a voz do início da campanha - utilizou críticas ao atual Governo PSD/CDS-PP para alertar para a importância do voto nas autárquicas de domingo.
“E faço-o particularmente no município onde sei que a demagogia e o populismo não têm hora, porque é muito fácil prometer tudo e a todos. Então, em campanha eleitoral, é mesmo muito fácil aparecer junto às pessoas, prometer tudo e a todos”, explicou.
Segundo o líder do PS, há atualmente “a prova no Governo de quem prometeu tudo e a todos” e de quem em 100 dias “encontrava soluções para problemas complexos” e, “ao fim de um ano e meio”, deixou o país “muito pior em todas as áreas em que prometeram soluções fáceis”.
“E, o que se passou no país, passar-se-á nas autarquias se nós nos deixarmos encantar por esses discursos encantatórios, falaciosos, demagógicos e populistas”, avisou.
Na perspetiva de Carneiro, “as eleições autárquicas não são uma mera soma de 308 municípios”.
“As eleições autárquicas são mesmo a construção da base fundamental para que o país consiga enfrentar, no futuro, os desafios fundamentais ao seu desenvolvimento económico e ao seu desenvolvimento social”, apontou.
