Mário Soares utilizou "o direito à indignação" que cunhou nos tempos do cavaquismo, até ao fim da jornada política. A defesa, à margem do PS, de José Sócrates foi uma das últimas cruzadas.
Corpo do artigo
Contra o silêncio oficial do Partido Socialista, Mário Soares deu voz à defesa de José Sócrates.
Visitou-o, várias vezes, na prisão de Évora, onde considerou "vergonhosa"". "Têm feito uma campanha contra ele que é uma infâmia", acusou depois da visita à prisão de Évora.
Soares repetiu a visita quando Sócrates estava em prisão domiciliária. Foi o primeiro político a cruzar a porta. Depois da libertação, José Sócrates havia de escolher a casa de Mário Soares como primeiro sítio para visitar.
Fora da primeira linha política, Mário Soares nunca deixou sem comentário os principais acontecimentos nacionais e internacionais e foi particularmente ativo durante o governo de Passos Coelho.
Em pleno clima de contestação ao anterior governo, durante o período da do Programa de Ajuda Externa, soou a um "obviamente demita-se", o repto de Mário Soares ao então primeiro-ministro Passos Coelho.
"É preciso que o Governo tenha o bom sendo e a honradez de se demitir, e tem que ser demitido pelo Presidente da República, numa segunda fase, não há outra coisa a fazer", vaticinava Soares.
De viva voz ou nos artigos de opinião no Diário de Notícias e na Visão, o antigo presidente avisava Passos de que corria "grandes riscos" porque tinha contra ele "Portugal inteiro: sacerdotes, militares, cientistas, rurais, sindicalistas, empresários e banqueiros" e, até, a "maioria dos próprios correligionários do PSD".
Soares juntava na crítica Passos Coelho, "o protegido" e Cavaco Silva," o protetor".
Para fora do país, ficava a crítica à supremacia dos mercados.
"Os governos não têm margem porque não a querem ter, porque querem aceitar que quem mande sejam os mercados. Se fosse eu ou o Felipe Gonzalez púnhamos os mercados no seu lugar. O que é isto dos mercados mandarem no mundo? É o fim da civilização!", exclamava o antigo governante, na conferência dos 40 anos do jornal "Expresso".