Beatriz Rosa, da direcção do Ateneu, considera que o 25 de Abril foi a libertação dos medos, das perseguições, da tortura, da censura e o fim da guerra colonial.
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Para Beatriz Rosa, da direção do Ateneu, “está muito por cumprir” 50 anos depois do fim da ditadura. A coletividade continua a marcar a chegada da liberdade na Sé Velha, onde, todos os anos, se ouve a “ Grândola, Vila Morena” e se queima simbolicamente o fascismo.
Beatriz Rosa, da direcção do Ateneu, considera que o 25 de Abril foi a libertação dos medos, das perseguições, da tortura, da censura e o fim da guerra colonial. Mas abril trouxe mais.
“Depois vieram outras conquistas. O serviço nacional de saúde. A escola pública. Conquistas a que damos um valor, se calhar, pequeno, porque não nos lembramos bem como é que era a situação antes do 25 de abril. Mas que são conquistas fundamentais. Conquistas civilizacionais”.
O Ateneu foi uma das associações que, em Coimbra, lutou contra o fascismo. Foi criado em 1940 por um grupo de operários, comerciantes e industriais da Sé Velha, a que se juntaram posteriormente os estudantes, com um caráter social e cultural.
“O Ateneu teve um papel fundamental na resistência ao fascismo através do teatro, das palestras, das conferências, dos encontros que havia. Foi possível também consciencializar as pessoas da necessidade de alterar a situação e derrubar o regime fascista. O Ateneu teve um papel fundamental nessa matéria, por isso mesmo, foi perseguido. Brutalmente perseguido”, recorda Beatriz Rosa.
Todos os anos, o Ateneu celebra o 25 de Abril com um momento simbólico no largo da Sé Velha. É onde, à meia-noite, se canta “Grândola, Vila Morena”, de José Afonso, e se procede à queima de um boneco que representa simbolicamente o fascismo.
“Esta comemoração, na noite de 24 de abril para 25, simboliza um pouco o facto de o Ateneu ter ajudado a derrubar o fascismo e à meia-noite cantamos todos juntos a Grândola, na Sé Velha. E são milhares de pessoas que costumam estar aqui.”
Quando se assinala meio século de democracia, Beatriz Rosa considera que “está muito por cumprir” e exemplifica com “o estado em que está agora o Serviço Nacional de Saúde, que tem piorado”, e a “escola pública que tem piorado de condições”.
“Houve um grande retrocesso e a liberdade está permanentemente ameaçada, não tenhamos nenhuma dúvida disso. E pode haver outros retrocessos até na democracia formal, que é muito preocupante. Mas estamos em crer que, até pela adesão nas comemorações que o Ateneu promove nessa noite, há força para que isto não aconteça. Para que seja possível reforçar os valores e as conquistas que o 25 de abril nos trouxe”, remata.
