Ativistas recusam entregar a "intermediários" ajuda a Gaza e interpretam proposta do Governo como "tentativa de travar missão"
À TSF, a bloquista confessa o "entusiasmo pela possibilidade de chegar" a Gaza, mas ressalva que esse sentimento é também acompanhado pela "apreensão" sentida pela "responsabilidade" que têm em mãos: se conseguir chegar ao enclave, serão a "primeira flotilha que o fez em mais de uma dezena de anos"
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A líder do BE, Mariana Mortágua, que segue na Flotilha Global Sumud em direção a Gaza, garante que não equaciona a hipótese de não chegar ao enclave e sublinha que Israel "não tem qualquer direito de intercetar, retirar ou deter qualquer passageiro destes navios". Por isso, o apelo do Governo para que fiquem em águas internacionais, deixando a ajuda humanitária ao encargo do Chipre, é interpretada como "uma tentativa de travar a missão".
Em declarações à TSF, a bloquista explica que a expectativa é que na quarta-feira de manhã os barcos da missão humanitária possam passar a zona de risco israelita, onde "costuma haver intervenções por parte do Governo Israelita para travar a passagem de ajudas humanitárias".
"E, se continuarmos, e acreditamos que vamos continuar, chegaremos a Gaza na manhã seguinte [de quinta-feira]", aponta.
Sobre a possibilidade de o Exército israelita interromper o percurso, Mortágua recusa equacionar esse cenário.
"Eu não considero esse plano, porque as águas não são águas de Israel, são águas palestinianas. Israel, quer em águas palestinianas, quer em águas internacionais, não têm qualquer direito de intercetar, retirar ou deter qualquer passageiro destes navios", vinca.
Completa ainda afirmando que "qualquer intervenção israelita é uma violação do direito internacional". Esta, diz, é uma missão humanitária e, por isso, "tem direito de passagem segura e a Palestina também tem direito a receber ajuda humanitária, sem intermediários".
"Esperamos que, até porque temos vários governos que nos vão acompanhando com navios da Marinha, estejam aqui para fazer cumprir o direito Internacional", reforça.
Já ao Governo português dirige críticas pela posição "tímida" em relação a esta matéria: "Começou por dizer que não tinha qualquer obrigação de dar qualquer tipo de apoio à flotilha — moral, político ou diplomático —, e penso que já recuou porque vários países e vários outros governos estão a apoiar esta flotilha e a sua missão humanitária."
O Executivo liderado por Luís Montenegro, adianta, "celebrou uma espécie de acordo" com o Governo italiano, que tem um navio a acompanhar a missão, que dava a hipótese aos ativistas portugueses de entregaram a ajuda humanitária ao Chipre, para que depois fosse distribuída em Gaza. Mas a proposta foi "rejeitada liminarmente".
Não entregamos a ajuda humanitária a intermediários e muito menos intermediários, que depois se confundem com a força opressora e que está a matar as pessoas à fome. Portanto, não considerámos ofertas do Governo português como ofertas de boa fé, mas sim como uma tentativa de travar esta missão.
Mariana Mortágua confessa ainda o "entusiasmo pela possibilidade de chegar" a Gaza, mas ressalva que esse sentimento é também acompanhado pela "apreensão" sentida pela "responsabilidade" que têm em mãos: se conseguir chegar ao enclave, serão a "primeira flotilha que o fez em mais de uma dezena de anos".
"O cerco dura desde 2007 e fazê-lo no momento em que Israel está a dizimar Gaza tem um efeito muito importante e muito forte. Há uma necessidade de urgência porque Israel está a destruir toda a cidade e abrir o corredor humanitário é hoje mais urgente do que nunca. Por isso, estando tão perto, o que há em todos nós é uma enorme confiança, mas também apreensão e responsabilidade para fazer tudo de forma a não dar qualquer justificação ou desculpa para o Governo Israelita justificar a sua violência e para abrir o corredor humanitário, que é o objetivo", remata.
