"Atuação de gang." Ativista do Black Europeans vai apresentar queixa contra Pedro Pinto e outros membros do Chega

Pedro Pinto
Leonardo Negrão/Global Imagens (arquivo)
Miguel Cardoso já formalizou outras duas queixas devido ao mesmo incidente num voo entre Lisboa e Bruxelas
O coordenador nacional do Black Europeans, Miguel Cardoso, vai apresentar, na próxima semana, uma queixa contra o líder parlamentar do Chega, Pedro Pinto, o deputado João Ribeiro e outros membros daquele partido político e fala em "atuação de gang". Segundo revelou o ativista deste grupo europeu antiracista, esta sexta-feira, à TSF, as acusações incluem "ameaças, intimidação, incitamento ao ódio e gravação não consentida".
Mas a defesa do ativista não fica por aqui e esta quinta-feira formalizou na Polícia Judiciária uma outra queixa contra as pessoas que o ameaçaram de morte através das redes sociais. Miguel Cardoso revela também à TSF que três pessoas estão identificadas por intimidações de gravidade superior, que incluem ameaças à vida do ativista. Garante ainda que algumas das contas em causa incluem membros do Chega e do grupo neonazi 1143.
Os "insultos e intimidações" começaram após ter sido publicado um vídeo nas redes sociais oficiais do Chega, no qual aparece Miguel Cardoso a dizer a elementos do partido político que "não gostam da democracia" e que são "uma cambada de racistas". O episódio aconteceu na terça-feira no final de um voo entre Lisboa e Bruxelas, onde viajavam Miguel Cardoso, acompanhado da jornalista Paula Cardoso, e uma comitiva do Chega, a qual integrava o deputado Pedro Pinto.
O coordenador em Portugal do grupo europeu antiracista fundado no Reino Unido afirma que o vídeo não revela todo o contexto da situação e que esconde os "dez minutos" de "ameaças", "bocas" e "insultos" - que levaram, considera o ativista, a "uma reação de desespero" da sua parte.
"Eu tive pessoas que me disseram: 'É melhor nem pores os pés em Portugal.' Imagine-se, o país onde eu nasci", sublinha, acrescentando: "E isto tudo é fruto do clima de intimidação e do incitamento ao ódio destas pessoas com responsabilidade política em relação a mim."
"Eu sei o que é que eles quiseram fazer. Eles quiseram retratar um homem negro agressivo e violento. Mas aquilo [a reação de Miguel Cardoso gravada em vídeo] é uma resposta natural a um assédio que durou não só as duas horas e meia de voo, mas também aquele espaço de tempo desde que o avião aterrou", explica o ativista.
O ativista refere igualmente que durante a referida viagem tanto ele como Paula Cardoso "ouviram insultos sistematicamente": "Eu nem tenho capacidade para definir a sujidade de palavras, de comportamentos que vimos. Pessoas a grunhir, pessoas a arrotar, a cuspir no chão, com termos como 'macaco' e 'aquela gaja'."
De acordo com Miguel Cardoso, a situação ainda escalou mais quando, no final da viagem, Paula Cardoso entoou as palavras de ordem "25 de Abril sempre, fascismo nunca mais", com a música Grândola, Vila Morena a tocar no telemóvel. Seguiu-se o momento de tensão que originou o vídeo que leva agora às denúncias do coordenador nacional do Black Europeans.
Mas foi logo em Bruxelas que avançou com uma primeira queixa formal contra Pedro Pinto, neste caso junto das autoridades belgas, no seguimento da "quantidade de ameaças de morte e de agressão física" da parte de "pessoas associadas ao Chega", que resultaram do mesmo vídeo.