"Big Show PSD": Drama, comédia, suspense - há de tudo em 37 anos de congressos
Já se viu choro, zangas e reconciliações numa "dialética da pancada" própria do partido. Este é o 37.º congresso do PSD, em 43 anos de democracia. E (quase nunca) foram monótonos.
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O PSD é um partido que adora congressos e regista o recorde. Já teve 37, desde aquele primeiro que elegeu líder Francisco Sá Carneiro. Os primeiros congresso foram intensos como o eram os tempos depois da Revolução de Abril.
Houve zangas, saídas, regressos e o partido só encontrou a estabilidade depois de uma rodagem mítica, em 1985, quando Cavaco Silva trocou um BMW por um Citroen e rumou à Figueira da Foz.
Cavaco foi dizer "olhos nos olhos" o que pensava sobre as eleições presidenciais e acabou por ganhar o partido ao favorito João Salgueiro. Ele que se assumia como um não político mostra, desde cedo, o tipo de liderança que havia de dominar, durante muitos anos, o PSD criticando os políticos "que não conseguem debater sem se insultarem".
Sá Carneiro foi sempre a grande referência. Cavaco recordava a tirada de que "governar a sério implica sempre desagradar a alguns".
Em 1990, Cavaco usa a tribuna do congresso para um puxão de orelhas ao partido pela luta interna antes das eleições autárquicas "onde nalguns sítios foram sociais-democratas os principais adversários do PSD".
Mas nesse congresso, Ângelo Correia recordava ao líder que muita "intriga de jornal está nas pessoas" que rodeavam Cavaco.
Na história dos congresso do PSD, o de 1995 merece destaque. Cavaco Silva, de saída da liderança, entra pelo Coliseu de Lisboa, triunfante.
O PSD é, nessa altura, um partido órfão dividido entre Santana Lopes, que pela primeira vez é candidato e desiste, Durão Barroso e Fernando Nogueira que vence mas não convence.
Mas, nesse congresso, é Luís Filipe Menezes quem sai em lágrimas depois de uma monumental vaia, depois de fazer referência à "ala sulista, elitista e liberal" que venceria caso Durão ganhasse o partido.
Durão Barroso chegou à liderança em 2002, vence as eleições ao PS e forma Governo com o CDS até partir para Bruxelas para presidir à Comissão Europeia.
Santana Lopes tem sido figura central nos congresso do PSD, com discursos que costumam aquecer a plateia laranja. É ele quem avança com a proposta de "uma lei da rolha" que proibia críticas ao rumo da liderança, sessenta dias antes de eleições. Mas a proposta chumba, afinal, como lembrava Marcelo Rebelo de Sousa, noutro congresso, " já todos demos pancada e demos pancada, e cria-se uma dialética altamente estimulante".
Em 2005, ao vencer Luís Filipe Menezes, Marques Mendes avança com a proposta de eleições diretas para a liderança e os congressos do PSD esvaziam-se da emoção do "contar de espingardas" até ao último instante, e tornam-se palco da consagração dos líderes.
Na história do PSD, apenas uma mulher, Manuela Ferreira Leite, a chegou à liderança.
Crítico da economista, Pedro Passos Coelho ganharia o partido em 2010. Passos não alcançou a longevidade de Cavaco à frente do PSD mas é o segundo com mais tempo de liderança.
No último congresso social democrata, em 2016, Passos surge ainda a digerir a novidade de um governo socialista, apoiado pela esquerda mas deixa o aviso de que é ao PS e aos partidos que o apoiam que cabe "garantir a estabilidade".
Logo à noite, Passos Coelho passa o testemunho a Rui Rio, eleito nas diretas de 13 de janeiro, com 54% dos votos. Mas, se neste congresso, a liderança está escolhida, tudo o resto está em aberto.