José Manuel Pureza defende que Portugal tem de marcar posição na relação com a União Europeia para deixar de "contar tostões" a cada discussão do Orçamento do Estado.
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O Bloco de Esquerda (BE) considera que Portugal não se pode deixar levar pelo "europeísmo resignado", cujo mote é "poupar, poupar, poupar", ao mesmo tempo que os países "que mandam", como a Alemanha ou a França, ignoram o cumprimento do Tratado Orçamental.
Durante o debate de discussão da proposta de Orçamento do Estado de 2017, na Assembleia da República, José Manuel Pureza, deputado do BE, defendeu que, ao seguir as ordens provenientes da Europa "poupamos para nos endividarmos, poupamos para empobrecermos" e considerou que a renegociação de juros por Portugal "não é suportável sem uma renegociação da dívida".
Sem mencionar a posição dos restantes partidos com assento parlamentar no que toca à relação com a União Europeia, Pureza lembrou que "à exceção do Luxemburgo, nenhum estado cumpre o Tratado Orçamental", acrescentando que, enquanto uns países são perdoados, "outros são punidos".
"Para Portugal sobra a espada das sanções", disse, referindo-se à resposta de Bruxelas ao não cumprimento do limite do défice pelo país, concluindo que "enquanto não marcarmos a nossa relação com a UE, cada discussão do orçamento arrisca-se a ser um exercício menor de contagem de tostões".
Ontem, interpelado pelo BE, Mário Centeno tinha concordado que é necessário debater uma eventual redução da dívida mas insistiu que essa discussão deve ser feita junto dos parceiros europeus. O ministro das Finanças mantém que "a única coisa que Portugal não pode perder é a credibilidade".
O "anexo do PS" visto por Carlos Abreu Amorim
Comentando a intervenção de José Manuel Pureza, Carlos Abreu Amorim, do PSD, acusou o bloquista de ter falado "de tudo, menos no Orçamento do Estado". "Essa atitude faz lembrar a de um conhecido treinador de futebol que se declarou imponente para mudar o curso das coisas quando foi castigado", ironizou o social-democrata, acusando o Bloco de ser "um partido que está à venda. Vende-se por um naco de poder".
"O BE não passa de um anexo situado nas traseiras do PS, que abdicou por completo daquilo que vinha defendendo de há uns anos a esta parte", referiu Amorim, concluindo com nova alusão à gíria futebolística, numa referência a Jorge Jesus: "o bloco de esquerda e a geringonça não serão bocejados pela sorte".
Na resposta, José Manuel Pureza rejeitou que o partido a que pertence se venda a interesses, salientando que o Bloco deixa isso "para outros".