"Capacidade de negociação imbatível e ímpar." Diplomatas concordam que Costa reúne as características para liderar Conselho Europeu
Foi "um erro" Montenegro "insistir que Costa, enquanto socialista português, é o melhor que a Europa tem", acredita ex-alto funcionário da ONU Victor Ângelo, em declarações no Fórum TSF. Como alternativa, deveria ter "frisado toda a sua experiência"
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O jantar informal dos 27 desta segunda-feira terminou sem acordo e António Costa terá de aguardar mais uns dias. Apesar da espera, o antigo embaixador Fernando Neves não tem "dúvida nenhuma" que o ex-primeiro-ministro seria o "melhor" presidente do Conselho Europeu (CE) "que hoje se poderia escolher", considerou esta terça-feira no Fórum TSF.
Para desempenhar tal cargo é importante "ser diplomata, ter capacidade de negociação e de gerir compromissos", referiu ainda, acrescentando que Costa já reuniu com o primeiro-ministro húngaro, Viktor Orbán, a pedido "dos [que estavam] mais envolvidos em determinada questão, porque tem, de facto, uma capacidade de negociação imbatível e ímpar".
Por sua vez, Victor Ângelo, antigo secretário-geral-adjunto da Organização das Nações Unidas (ONU), defendeu que as negociações para a liderança do CE não são fáceis, tendo em conta o resultado das europeias: a ala da direita "pensa que estar a dar um lugar por cinco anos a um representante do movimento socialista europeu é desproporcional em relação aos votos que conseguiu obter nestas eleições para o Parlamento Europeu". Esta é uma das razões pelas quais os negociadores do Partido Popular Europeu (PPE) propuseram que a presidência do CE fosse dividida em duas metades - uma seria assegurada pelos Socialistas e Democratas e a outra pelo PPE, quebrando a tradição que tem sido a renovação do mandato -, justificou ainda.
Sobre a estratégia do primeiro-ministro, Luís Montenegro, que já manifestou em várias ocasiões o apoio a Costa, o ex-alto funcionário da ONU sublinhou que foi, "em certa medida, um erro insistir no facto de que António Costa, enquanto socialista português, é o melhor que a Europa tem para o cargo". O essencial, enfatizou, era frisar "claramente todas as características, toda a experiência e toda a capacidade que António Costa tem para desempenhar um lugar tão importante como é o de presidente do Conselho Europeu".
João de Deus Pinheiro, comissário português em 1993, explicou, de forma concisa, as condições para se ser líder desta instituição: "O que se pretende do presidente do Conselho Europeu é que ele consiga arranjar consensos entre os 27 países. É muito importante que à frente deste órgão esteja alguém que não suscite dificuldades maiores em procurar um consenso e que seja aceite ou, pelo menos, não seja rejeitado por diferentes famílias políticas."
O também ex-ministro dos Negócios Estrangeiros sublinha que Costa cumpre com estes requisitos, caraterizando-o como "uma pessoa muito bem posicionada para conseguir entendimentos". Destacou igualmente que não o "surpreende" o apoio do Partido Socialista Europeu, mas que o "admira que o Partido Popular Europeu tenha levantado questões que são inovadoras e que não são justificadas".
As famílias políticas europeias ainda estão a negociar os nomes para os cargos de topo da União Europeia. Como afirmou o (atual) presidente do CE, Charles Michel, “tudo ficará claro na próxima semana”, na cimeira formal marcada para os dias 27 e 28 de junho.

