Carmelinda Pereira: "Nunca sou capaz de não votar. Temos de fazer como no 25 de Abril"
O Voto é a Arma do Povo: as primeiras eleições livres em Portugal fazem 50 anos e a TSF convida 25 personalidades a falar sobre a importância da democracia participativa. Aos 27 anos, Carmelinda Pereira foi a eleita mais jovem para a Assembleia Constituinte e passados 50 anos pede que o povo faça como em 1974
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Carmelinda Pereira foi a mais nova parlamentar na Assembleia Constituinte. Foi candidata pelo Partido Socialista, na lista de Lisboa, antes de ser uma das fundadoras do Partido Operário de Unidade Socialista (POUS). Concorreu às primeiras eleições livres em Portugal com 27 anos e 50 anos depois sente-se incapaz de se abster.
"Os direitos são para se usarem e o voto é muito importante. Nunca sou capaz de não votar. Eu tenho de votar. Foi uma conquista. Agora, também sei que votar não chega. E quando se fala em estabilidade, que as pessoas querem estabilidade, estabilidade é as maternidades fechadas? Estabilidade é as crianças nascerem em ambulâncias? Tenho uma filha que está grávida. Em que hospital ou ambulância é que ela vai ter a criança? Muitas mães e muitas avós estão a interrogar-se sobre isto", explica Carmelinda Pereira à TSF.
A antiga deputada lança o repto: "Temos de fazer como no 25 de Abril. Enquanto as pessoas não se levantarem todas para fazer valer aquilo que elas querem, aquilo que é necessário para este país, que não é dinheiro para a guerra, é dinheiro para os serviços públicos, dinheiro para a escola, para a saúde, para a educação."
A antiga deputada percebe as razões para as pessoas estarem hoje mais desligadas da política, até porque os problemas persistem, independentemente de quem governe.
"O facto de as pessoas não irem votar ou não saberem em quem votar tem uma leitura e uma interpretação que os sociólogos sabem bem por que é que as pessoas neste momento não acreditam nesta democracia. Mas o que acontece é que as pessoas também sentem uma insegurança muito grande. Digo eu, falando com as minhas colegas. Eu sou professora e continuo a ter uma ligação muito forte com as minhas colegas nas escolas e elas sentem uma grande frustração", relata.
E completa: "A escola não está bem, toda a gente sabe. A escola vive numa situação muito difícil e elas não veem as suas vidas, nem a população escolar que chega às escolas. Tudo isso são situações tão difíceis e elas não veem que seja um governo, seja outro governo, seja outro governo, as coisas não mudam."
Recuando 50 anos na vida, Carmelinda Pereira lembra a campanha para as eleições constituintes e a forma como tudo era feito naquela altura.
"A campanha era feita em assembleia. Era feita na rua, mas era sobretudo feita em reuniões chamadas ‘estações de esclarecimento’ e em comícios com imensa gente. E havia também algumas gravações na televisão. Foi a primeira vez que eu falei na televisão. Propuseram-me que eu fizesse uma gravação, porque eu era uma miúda, portanto muito nova, era a mais nova deputada e, portanto, aparecia como uma jovem entusiasmada a apelar a votar no Partido Socialista com os direitos das mulheres, com os direitos dos trabalhadores, com os direitos dos estudantes, com todos os direitos", conta.
Depois de uma revolução quase sem sangue, Portugal está há 50 anos a utilizar a arma mais forte que o povo tem: o voto. A TSF convida 25 personalidades a falarem sobre a importância da participação dos eleitores. Para ouvir todos os dias na antena da TSF de manhã, à tarde e à noite, e a qualquer hora em tsf.pt