Casas acessíveis, estações recuperadas e um teleférico: o que propõem os candidatos a Sintra
Entre as forças políticas representadas no executivo de Sintra, o PS coligado com o Livre tenta segurar a autarquia, PSD, IL e PAN concorrem juntos, a CDU tenta manter a vereação e o CDS corre, desta vez, em pista própria. O Chega tenta replicar em Sintra o crescimento nacional
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Às 08h30, já há centenas de pessoas a marcar lugares na fila da loja do Cidadão de Agualva-Cacém. Algumas dormiram à porta. É o caso de Julinho, que chegou às 21h00 do dia anterior e esperou quase doze horas para ser atendido porque as senhas são escassas.
Também Semedo, antigo funcionário da Carris, agora reformado, veio marcar lugar. Chegou às 05h00 e explica que não é só na Loja do Cidadão que tem de esperar na fila.
Aqui, para qualquer coisa é assim. Se for para o médico, uma vez por mês, se não tenho senha é até ao outro mês
À porta da Loja do Cidadão do Cacém, o candidato da CDU à Câmara Municipal de Sintra, Pedro Ventura, vai ouvindo e entregando panfletos A4, onde presta contas do trabalho realizado como vereador na autarquia nos últimos quatro anos.
Pedro Ventura aponta como uma das prioridades a aposta na habitação, acreditando que podem ser colocados no mercado de arrendamento acessível 4200 fogos até 2030: “Entre a deslocação de 2000 fogos que se encontram devolutos no concelho, de um total de 17.000, e a construção de 2200, é um plano perfeitamente executável."
Na leitura do vereador comunista, a vida está “cada vez está mais difícil em Sintra, pelo crescimento da população, pelo número de carros, pelos transportes públicos que ainda não são suficientes". Pedro Ventura defende, por exemplo, “o fim das portagens na A16 e na CREL, sem qualquer custo para o município de Sintra” e um investimento “significativo” nas estações de comboio da linha de Sintra.
Na estação de comboios de Massamá, a candidata a Sintra da Coligação PS/Livre e antiga ministra do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social Ana Mendes Godinho garante que tem procurado “estar sempre no terreno” a ouvir as pessoas e relata alguns dos problemas que lhe chegam:
Desde logo na questão da estação, a própria manutenção do espaço, a limpeza, a segurança e a manutenção dos equipamentos, nomeadamente até da escada rolante
Ana Mendes Godinho considera que “é um problema evidente e transversal às várias estações da linha de Sintra” e, por isso, um dos programas “prioritários” que assume é “procurar ter uma gestão das estações da linha de Sintra por parte da Câmara de Sintra".
“Porque isto garante uma maior capacidade de resolução rápida dos problemas de proximidade e de transformar as estações em espaços vivos. O meu objetivo é passar a ter um gabinete da polícia municipal nas estações e um gabinete de apoio aos munícipes", explica a candidata apoiada por PS e Livre.
Para Ana Mendes Godinho este é também um momento decisivo para o concelho na questão da habitação:
Temos de ter mesmo um programa de emergência para a habitação, porque já percebemos que a nível nacional não estão a ser encontradas respostas e é mesmo preciso encontrar respostas a nível local. É também com esse objetivo que assumi termos a disponibilização de 2200 casas por parte da habitação pública
Em Mem Martins, onde Dália Santos vive há 21 anos, a Associação de Moradores da Quinta da Cavaleira sublinha a urgência de mais habitação acessível.
“Nós vemos uma alteração na população, enquanto os valores das habitações sobem a preços astronómicos, porque existem apartamentos a 300 e tal mil euros, também existem casais que já têm os seus quartos alugados, portanto, várias famílias a morar nas mesmas casas,” explica Dália, apontando o contraste entre “a gama mais alta a comprar apartamentos caros, mesmo em segunda mão”, e a outra vertente de “pessoas que realmente não conseguem sobreviver se não alugarem os seus quartos".
Carmen Chorrinca, que preside à Associação de Moradores da Quinta da Cavaleira e mora no bairro há 14 anos, queixa-se dos transportes públicos:
Precisávamos de ter um horário mais alargado, porque temos pessoas que trabalham à noite, que saem mais tarde, temos pessoas que trabalham aos sábados e aos domingos e este horário dos nossos transportes é muito limitado. Terminam por volta das nove e tal da noite e, a partir daí, já não há como as pessoas chegarem até ao bairro. Têm de utilizar outro tipo de transportes, como o Uber, mas isso é uma outra despesa que vai além do passe social
Se fossem presidentes da Câmara de Sintra, tanto uma, como outra, davam prioridade à habitação, com Dália Santos a sugerir a construção de bairros “como deve ser para pessoas que necessitassem, para pessoas que trabalhassem, mas que não têm condições de pagar uma renda”. Carmen Chorrinca cita o exemplo do filho, “que trabalha, a esposa trabalha, são duas pessoas formadas e não conseguem comprar uma casa".
Quem já foi vice-presidente da Câmara de Sintra é Marco Almeida, o candidato da coligação entre PSD, IL e PAN, que se propõe “duplicar” o investimento que a Câmara de Sintra faz na Carris Metropolitana para garantir “mais horários e mais circuitos”. Marco Almeida admite a possibilidade de a Câmara de Sintra fazer a gestão do transporte ferroviário e pretende “investir em vias estruturantes, permitindo que haja uma fluidez da Zona Norte para a Zona Urbana do concelho".
Para Marco Almeida a prioridade é “devolver o orgulho aos sintrenses de serem sintrenses". "Durante 12 anos de gestão do Partido Socialista, aquilo a que assistimos foi à degradação da imagem do concelho, ao empobrecimento dos sintrenses e, acima de tudo, à degradação da vida dos sintrenses naquilo que diz respeito às infraestruturas que dispõem.”
O antigo parceiro de coligação do PSD de Marco Almeida é Maurício Rodrigues, do CDS-PP, que para estas autárquicas se candidata com o PPM e o ADN. O atual vereador sem pelouro promete “recalibrar o orçamento municipal”.
“O orçamento municipal é de 400 milhões de euros, mas, neste momento, tem, em contas bancárias, 300 milhões. Estes 300 milhões refletem muita obra que ficou por fazer, obras que se poderiam ter feita com valores mais baixos, que agora, se forem feitas, têm o dobro ou o triplo do custo. E, precisamente, começo por recalibrar no aspeto da habitação, da saúde, da segurança, da higiene pública, que está um caos em Sintra, da mobilidade. Essas são as minhas grandes bandeiras,” garante.
Para o centro de Sintra, Maurício Rodrigues quer um teleférico que facilitasse a circulação, “sem custos para o município".
Propomos um teleférico a sair do Ramalhão, que vai à Santa Eufémia e depois desce ainda a estação. Isto era um projeto com impacto internacional, ia fazer com que aumentasse a mobilidade e diminuíssem as confusões
A candidata do Chega, Rita Matias, aponta como prioridades para Sintra a segurança e a mobilidade. “Em primeiro lugar, a questão da segurança, porque é aquilo que nos dizem na rua, as pessoas sempre inseguras em todo o concelho, na região norte, mas também na malha urbana. Depois, queremos olhar muito para os desafios da mobilidade, porque são esses desafios que têm atrasado o concelho no seu desenvolvimento. Temos também como prioridade a habitação, o combate à corrupção, a batalha pela transparência e pela digitalização, portanto, apostar na inovação dos serviços para garantir respostas mais céleres e, ao mesmo tempo, também mais eficácia dos recursos humanos."
As eleições autárquicas estão marcadas para 12 de outubro.