Miguel Tiago e Pedro Duarte não poupam nas palavras. O que se passou no caso das offshore tem que ser investigado até ao fim. E ainda falta explicar muita coisa.
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Se Paulo Núncio acha que ficou tudo explicado no Parlamento e que a admissão de responsabilidades políticas foi suficiente para acabar com a polémica, está muito enganado. O caso está longe de estar encerrado e, da esquerda à direita, sobram dúvidas sobre a atuação do ex-secretário de Estado. "Não há nada nos argumentos de Paulo Núncio que seja minimamente aceitável" diz Miguel Tiago, deputado do Partido Comunista que questiona "porque é que ele não publicou as estatísticas? A ideia de que era para não espantar a caça é das coisas mais disparatadas que já ouvimos." No programa Política Pura, da TSF, Pedro Duarte alinha pelo mesmo diapasão: "Há muitas dúvidas por dissipar" diz o social-democrata, ainda que o próprio Paulo Núncio tenha assumido que "foi uma decisão errada. Ele admite que se fosse hoje faria diferente".
Paulo Núncio assume que guardou na gaveta a publicação das estatísticas sobre as transferências para paraísos fiscais mas o assunto é mais profundo. É que, ao fisco, escapou a fiscalização de vários milhares de milhões de euros para esses paraísos fiscais, alegadamente por um problema informático. Miguel Tiago reconhece que é preciso apurar todos os factos mas lembra que "Paulo Núncio trabalhava para uma sociedade de advogados que fazia este tipo de esquemas, uns legais, outros menos legais, uns lícitos outros menos lícitos e depois foi para Secretário de Estado." A conclusão do deputado comunista é a de que "esta ocultação da estatística e esta incapacidade de identificar todas as transações, beneficiaram um grupo muito restrito, grandes grupos económicos e grandes milionários" pelo que "se o erro foi deliberado é muito grave e é corrupção" mas "se o erro foi político, não é menos grave porque estamos a falar de um governo que mobilizava a autoridade tributária para andar à procura das faturas nas feiras, que penhorava casas às pessoas por causa de dívidas de 500 euros e ao mesmo tempo escapavam-lhe 10 mil milhões de euros. Mesmo que tenha sido um erro, é de uma incompetência atroz."
Pedro Duarte prefere centrar-se na atuação do atual Governo porque, diz, é importante perceber por que houve "um aparente erro informático que fez desaparecer um conjunto de dados muito significativos. E isso é um caso diferente, porque é um caso de polícia e tem que ser esclarecido até às últimas instâncias." O social-democrata lembra as dificuldades que os portugueses atravessaram nos últimos anos e considera "inaceitável e revoltante o que se passou."
Sobre o alegado erro informático, Miguel Tiago diz no programa Política Pura da TSF que "essa é uma explicação que não satisfaz. Não estou minimamente convencido porque a máquina não se enganou. Quem fez o programa, quanto muito, enganou-se a programar a máquina e esse engano beneficiou grupos económicos em muitos milhares de milhões de euros."