Castelo Branco volta a estar dividido entre atuais e antigos autarcas. PSD apoia ex-socialista
Castelo Branco volta a ter uma eleição que promete ser disputada nas autárquicas de 12 de outubro, depois de, há quatro anos, o PS ter perdido a maioria absoluta
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Há quase 30 anos que pela porta da Câmara Municipal de Castelo Branco, bem no centro na cidade, não entra um presidente com outra cor política além da do PS. Primeiro, Joaquim Morão, agora Leopoldo Rodrigues, e com várias polémicas pelo meio: o concelho viu o anterior presidente Luís Correia perder o mandato pela via judicial e as políticas também estão longe de serem consensuais.
Leopoldo Rodrigues sucedeu, em 2021, a José Augusto Alves, que esteve apenas 14 meses no cargo depois da perda de mandato de Luís Correia. Há quatro anos, José Augusto Alves não concorreu nas autárquicas, mas apoiou a candidatura independente de Luís Correia, que foi absolvido, desfiliou-se do PS e roubou a maioria absoluta ao antigo partido.
Agora, os papéis invertem-se. José Augusto Alves é o candidato do Sempre por Todos, que junta o movimento independente fundado pelo antigo autarca socialista, o PSD e o CDS-PP.
“Tragédia albicastrense” ou passado “sem projetos”?
Quando muitos se queixam pela falta de iniciativa da autarquia, Leopoldo Rodrigues aponta o dedo ao anterior executivo, que entregou a câmara “sem projetos”: “Tivemos de os fazer e tivemos de os pôr no terreno. Hoje temos muitos projetos e projetos importantes para o desenvolvimento de Castelo Branco em execução e para dar sequência no futuro próximo.”
“Interroguei-me durante algum tempo sobre a razão para não termos tido uma reunião de passagem de projetos ou de passagem de testemunho. Hoje tenho a certeza absoluta porque é que isso não aconteceu: não aconteceu porque não havia projetos, porque não havia estratégia, porque não havia visão, ou seja, não havia nada para apresentar”, atira o atual autarca.
Em contraponto, o coronel na reforma José Augusto Alves, que é também provedor na Santa Casa da Misericórdia, vê uma “tragédia albicastrense” nos quatro anos de mandato do socialista.
“Castelo Branco foi ultrapassado pela Covilhã e pelo Fundão e, se nos descuidamos, se continuamos nesta saga, mais alguns concelhos vão ultrapassar o de Castelo Branco. Estes quatro anos do presidente Leopoldo foram uma desgraça completa”, acrescenta o candidato apoiado pelo PSD e CDS-PP.
Candidato do PSD e CDS já foi militante do PS
José Augusto Alves já teve o cartão de militante do PS, mas deixou o partido quando ainda exercia funções como presidente de câmara. Agora, apresenta-se como independente, apesar do apoio dos dois partidos de direita.
“Obviamente que o Luís Correia tem os pensamentos dele, o PSD tem os pensamentos do partido, o CDS tem os conceitos do próprio partido. Agora, eu estou numa posição completamente suprapartidária”, garante.
Leopoldo Rodrigues não vê mais do que uma tentativa de chegar ao poder. Antes, “afirmavam-se socialistas desde pequeninas” e, agora, “muitos passaram para o movimento independente e alguns até já se fizeram militantes do PSD”.
“Eu não vejo a participação cívica e a participação partidária dessa maneira. Tenho convicções e sou coerente nas minhas convicções, não ando atrás de uma oportunidade, ou seja, não ando atrás de uma oportunidade que me permita chegar ao poder”, disse, numa mensagem dirigida ao adversário político.
Chega quer “salvar Castelo Branco”. Candidato envolvido em falência de empresa
Os quatro anos de percurso autárquico, desde 2021, ficaram também marcados pelo crescimento do Chega que, tal como no país, apareceu em força no concelho. O deputado João Ribeiro é o candidato do partido, diz que PS e PSD são “farinha do mesmo saco” e apresenta-se com o slogan “salvar Castelo Branco”.
Nas legislativas, o Chega foi a segunda força política no concelho. É certo que João Ribeiro ainda está longe do primeiro lugar, mas admite que se for eleito presidente de câmara não fica totalmente surpreendido.
“A primeira proposta que vou fazer, que é uma questão de transparência, é uma auditoria às contas dos últimos 20 anos. Já houve muitas acusações, aliás, houve um presidente que perdeu o mandato e depois diz que foi uma questão meramente técnica, mas perdeu o mandato por ordem judicial, ou seja, há necessidade de fazer essa análise”, insiste.
O empresário esteve, no entanto, envolvido na insolvência de uma transportadora, que terá deixado uma dívida de mais de meio milhão de euros: “Só quem não teve negócios é quem não sabe se corre bem ou mal”.
Se ficar na oposição, o Chega pode desbloquear maiorias e João Ribeiro não tem preferências – fará uma oposição “construtiva” e não de “bota-abaixo”.
IL concorre pela primeira vez. BE e Livre juntos, CDU com listas próprias
Quem se apresenta pela primeira vez à autarquia é a Iniciativa Liberal, com o farmacêutico José Henriques, que quer mostrar aos albicastrenses que “há outra forma de fazer política”. Não se concentra em objetivos eleitorais, seja para o Executivo ou para a Assembleia Municipal, já que está focado nas políticas.
A esquerda concorre a Castelo Branco em duas frentes. A Coligação Esquerda Livre, que reúne o Livre e o Bloco de Esquerda, é liderada por Mário Camões, a CDU apresenta-se com Carlos Canhoto. Nenhum dos partidos tem representantes na vereação ou na Assembleia Municipal.
Tal como há quatro anos, as eleições no concelho são uma incógnita. Longe vão os tempos em que o PS era o vencedor anunciado à partida.