A coordenadora do Bloco de Esquerda defendeu que Portugal deve vetar o orçamento comunitário no Conselho Europeu se as propostas feitas pela Comissão não forem alteradas.
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Catarina Martins afirmou que o seu partido "analisa com muita preocupação" as propostas do orçamento para o próximo quadro comunitário de apoio, não só pelos cortes na Política Agrícola Comum (PAC) como pelos previstos nos fundos de coesão, que "penalizam particularmente Portugal".
A líder bloquista falava durante uma visita à 55.ª Feira Nacional da Agricultura/65.ª Feira do Ribatejo, que decorre até dia 10 no Centro Nacional de Exposições e Mercados Agrícolas (CNEMA), em Santarém, como o olival e o azeite como temas dominantes.
"Portugal deve fazer uma reflexão global sobre o que significa a PAC e os fundos de coesão e o que é proposto para o nosso país", disse, frisando que "o Governo português tem a possibilidade, e deve utilizá-la, de não aceitar este orçamento".
"Ou este orçamento é melhorado, ou faz algum sentido, ou, se não for, o Governo português pode vetá-lo em Conselho Europeu como qualquer outro Governo. Portugal não é mais nem menos que qualquer outro país, mas o que não podemos aceitar é que sejam constantemente feitas regras da União Europeia que beneficiam os grandes países e que prejudicam países como Portugal", declarou.
Catarina Martins afirmou que, não só Portugal está a ser penalizado por ter criado emprego, como "não é aceitável" que os fundos que são retirados na PAC e nos fundos de coesão sejam "enviados para a indústria de armamento francesa, italiana e espanhola".
"Podemos negociar ou fazer de conta que estamos a negociar. Se o Governo português não adotar uma posição de força na verdade não estamos a ver nenhuma vontade dos outros países de alterarem" as propostas que estão em cima da mesa, declarou.
Catarina Martins afirmou que a chanceler alemã, Angela Merkel, disse em Portugal "que compreendia tudo muito bem, mas que não havia forma de alterar o orçamento que está decidido", o que se compreende por este ser o país "que mais ganha com o euro" e para quem a alteração dos fundos "corresponde à sua estratégia de militarização da Europa".
Frisando que os cortes propostos penalizam mais os pequenos produtores e o interior do país, Catarina Martins pediu "uma posição forte".
"A forma que o Governo português tem para o fazer é, a par de uma negociação dura para o próximo orçamento, dizer que está disponível para vetar o orçamento se for necessário. Dizer que estamos a falar a sério", acrescentou.
Para a líder bloquista, "não se pode aceitar uma União Europeia que retira cada vez mais capacidade de decisão de escolha de investimento a países como Portugal, ao mesmo tempo que concentra mais os meios e toda a capacidade de decisão na Alemanha, na França, nos países de sempre".
Catarina Martins foi a segunda líder partidária a visitar hoje a Feira Nacional da Agricultura, que recebeu de manhã uma delegação do PCP liderada pelo secretário-geral, Jerónimo de Sousa, estando ainda agendada a deslocação da presidente do CDS/PP, Assunção Cristas, que ocupou a pasta da Agricultura durante o Governo de coligação com o PSD.