
Coordenadora do Bloco de Esquerda Catarina Martins discursa na sessão de encerramento da VII Conferência Nacional de Jovens do Bloco de Esquerda em Lisboa, 14 de abril de 2019. NUNO FOX/LUSA
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A coordenadora do BE pede ao PS que tenha a "coragem de aprofundar o caminho" contra a precariedade laboral e não acordar com "os patrões ou a direita" a revisão das leis do trabalho.
"Puxar o país para cima exige esse acordo à esquerda, e cabe ao PS escolher o que quer fazer: andar para trás e acordar com os patrões ou a direita, que nunca tem uma solução para oferecer, ou, pelo contrário, ter a coragem de aprofundar o caminho que responda por quem trabalha e conseguir fazer uma legislação à esquerda no parlamento", desafiou Catarina Martins.
No encerramento da Conferência dos Jovens do BE, na escola secundária Gil Vicente, em Lisboa, a líder bloquista vincou: "O BE cá estará para esse trabalho. Veremos, veremos, o que acontece".
O semanário Expresso noticiou no sábado que o Governo dá como impossível um acordo à esquerda sobre as leis laborais.
"Oiço tantas vezes o primeiro-ministro dizer coisas como 'é preciso parar a emigração dos mais novos', 'têm de querer voltar'. Entendamo-nos. Se nós levamos a sério dizer que temos jovens qualificados que queremos que trabalhem em Portugal, então, comecemos por fazer o que é preciso fazer na legislação laboral", declarou.
Para Catarina Martins, "o que é preciso fazer é agora no Parlamento acabar com a extensão do período experimental, acabar com a extensão dos contratos de muito curta duração, acabar com os bancos de horas fora da contratação coletiva".
A coordenadora do BE defendeu que o caminho é o de "ter mais e melhores horários, e não mais horas de trabalho por menos dinheiro", respeitando "quem trabalha por turnos e quem tem trabalho noturno", e combatendo a precariedade.
"Se o fizermos, vamos conseguir duas coisas: que quem é jovem em Portugal aqui queira viver e aqui queira pensar o seu futuro e que a Segurança Social fique com as contas bem mais sólidas", sustentou.
A coordenadora do BE referiu-se à luta dos trabalhadores do Estado, considerando que, no caso dos professores, tem ajudado a desmontar "uma boa parte da hipocrisia da direita", que "se diz solidária" mas, "quando chega à altura da verdade, de votar, de melhorar as condições de vida, recua, é incapaz".
"Vamos ter agora no Parlamento o debate sobre o descongelamento das carreiras dos professores, e o que vemos é que PSD, depois de se ter dito intransigente defensor da contagem integral do tempo de serviço dos professores, agora faz uma proposta em que diz 'afinal, não é bem assim, fica tudo como está, e logo se vê para o próximo governo'", criticou.
"Enfim, a hipocrisia da direita a que já estamos habituados, cavalga o descontentamento mas nunca tem uma proposta concreta, uma reivindicação, a força, para melhorar a condição de vida de ninguém", vincou Catarina Martins.
No encerramento da Conferência, que elegeu uma nova coordenação dos jovens do BE, entre três listas concorrentes, interveio também a cabeça-de-lista bloquista às eleições europeias, Marisa Matias.
A eurodeputada recusou uma abordagem da juventude que reduz os jovens à "geração Erasmus", como se fossem um setor da sociedade sem intervenção política e que não é afetado pelas políticas europeias.
"São a geração que mais foi afetada pelo Programa de Estabilidade, pelo semestre europeu, são a geração que mais foi afetada pelo tratado orçamental", defendeu.
Marisa Matias insistiu que, a cada ano, a Comissão Europeia faz duas recomendações que afetam particularmente os jovens: o corte na despesa pública, que se reflete em desinvestimento na educação e na saúde, e a flexibilização laboral, que promove a precariedade.