Numa "aula" na Universidade de Verão do PSD, ex-Presidente da República critica também a "verborreia frenética" da maioria dos políticos e fala em regresso à censura.
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O ex-Presidente da República Cavaco Silva defendeu hoje que, na zona euro, "a realidade acaba sempre por derrotar a ideologia" e os que, nos governos, querem realizar a revolução socialista "acabam por perder o pio ou fingem que piam".
Numa 'aula' na Universidade de verão do PSD, Cavaco Silva afirmou que hoje "é corrente apresentarem-se três casos" de países onde a realidade tirou o tapete à ideologia, enumerando França e Grécia mas sem se referir explicitamente ao caso de Portugal.
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"Os governos dos países da zona euro, ao chegarem ao poder, podem começar com alguns devaneios revolucionários mas acabam por perceber que a realidade tem uma tal força que, ou através do aumento de impostos indiretos que anestesiam os cidadãos, cortes nas despesas públicas de investimento, medidas pontuais extraordinárias e cativações das despesas correntes e consequente deterioração serviços públicos ou contabilidade criativa, acabam sempre por conformar-se com as regras europeias de disciplina orçamental", afirmou.
Para o ex-chefe de Estado, esta projeção da realidade "tem uma tal força contra a retórica dos que, no governo, querem realizar a revolução socialista, que eles acabam por perder o pio ou fingem apenas que piam, mas são pios que não têm qualquer realidade e refletem meras jogadas partidárias".
"Aqueles que ainda piam, fingem que piam mas não atribuam a esses pios qualquer credibilidade porque não são mais do que jogadas partidárias", defendeu.
Cavaco foi recebido pelo presidente do PSD, Pedro Passos Coelho, que se deslocou a Castelo de Vide de propósito para assistir à aula do ex-Presidente a República e antigo primeiro-ministro.
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À chegada à Universidade de verão do PSD, Cavaco Silva disse que veio diretamente de Albufeira, tendo-se levantado às 06h00 para marcar presença nesta iniciativa de formação de jovens quadros.
Por outro lado, o ex-Presidente da República criticou também a "verborreia frenética" da maioria dos políticos europeus, elogiando a exceção de Macron, e pediu aos jovens "força e coragem para combaterem o regresso da censura".
Cavaco dedicou uma parte da sua intervenção de 50 minutos a elogiar a estratégia comunicacional do atual chefe de Estado francês, Emmanuel Macron, dizendo ver semelhanças com a que adotou quando exerceu cargos de poder e que passa por recusar qualquer "promiscuidade com jornalistas".
"Em França, não passa pela cabeça de ninguém que Macron telefone a um jornalista para lhe passar uma notícia ou uma informação", afirmou.
Cavaco destacou que Macron entende que "a palavra presidencial deve ser escassa", uma estratégia que "contrasta com a verborreia frenética da maioria dos políticos europeus dos nossos dias, ainda que não digam nada de relevante".
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"Eu continuo a pensar que a independência em relação aos jornalistas é um princípio básico. A atitude que melhor serve o interesse do país e também o interesse pessoal dos políticos é o respeito pelos profissionais de comunicação social, mas mantendo distanciamento e não negociando o que publicam ou deixam de publicar", defendeu.
O tema da censura foi introduzido por Cavaco Silva na parte final da sua intervenção na Universidade de Verão do PSD e quando falava das eleições autárquicas que se realizam a 01 de outubro, onde pediu inspiração para os candidatos do PSD.
"Apesar das coisas estranhas que têm acontecido no nosso país, apesar de vozes credíveis afirmarem que a censura está de volta, estou convencido que os portugueses ainda valorizam a verdade, a honestidade, a competência, o trabalho sério, a dedicação a servirem as populações", disse.
O ex-Presidente e antigo primeiro-ministro terminou a sua "aula" com um apelo direto aos jovens participantes nesta iniciativa para que não lhes falte "a força e a coragem para combaterem o regresso da censura", sem explicitar a que se referia e aconselhando-os a ler um artigo que Maria João Avillez escreveu na segunda-feira no "Observador".
Nesse artigo, a jornalista defende, entre outras ideias, que "desde 1974 que a media ignora, despreza ou suporta mal a ideia de direita ou mesmo de centro-direita, troçando ou destruindo os seus líderes e ajudando a acabar com eles, mesmo que o voto os legitime".