Entrevistado na RTP, o antigo Presidente da República disse que nas reuniões nunca se apercebeu de "qualquer atuação legalmente menos correta". Cavaco mantém que "não precisa de ajustar contas".
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O antigo Presidente da República admitiu que ficou "totalmente surpreendido" com o processo judicial que envolve José Sócrates.
"Eu não tenho acompanhado esse processo, mas, digo-lhe, fiquei totalmente surpreendido", respondeu Cavaco Silva, acrescentando que, durante as reuniões que manteve com o antigo primeiro nunca se apercebeu de "qualquer atuação legalmente menos correta".
"Não preciso de ajustar contas com ninguém"
Ao longo da entrevista, Cavaco Silva foi questionado sobre se o livro "Quinta-feira e outros dias" é um ajuste de contas, o antigo Presidente diz que não precisa de "ajustar contas com ninguém", considerando que a vida foi generosa ao nível pessoal e familiar.
O antigo Presidente da República (PR) insiste que o conhecimento sobre os anos da coabitação com o Governo Sócrates ficaria "incompleto" se não tivesse incluído o relato das reuniões que manteve com o então primeiro-ministro, José Sócrates.
Cavaco Silva mantém que essas reuniões "constituem a parte substancial da magistratura de influência do PR".
Cita como exemplo, a atuação antes da aprovação do OE 2011, considerando uma "deslealdade" que Sócrates não tenha tido em conta que foi Cavaco Silva quem evitou "uma grave crise política", através de contactos com o PSD.
O antigo PR diz que "80 por cento das reuniões" com Sócrates foram "cordiais" e mostraram "cooperação estratégica".
Recorda apenas "duas reuniões muito difíceis": quando, depois da sua reeleição como PR, Cavaco Silva acusou Sócrates de ter "violado a Constituição" ao não o ter informado sobre o PEC 4 e a polémica reunião de setembro de 2009, antes das legislativas, em que foi tratada a questão das alegadas escutas a Belém.
"A realidade ultrapassou-me."
Cavaco Silva diz que vai escrever um outro volume onde poderá pronunciar-se sobre o Governo liderado por António Costa, mas para já diz ter uma posição "muito recatada" sobre a atual solução governativa, mas questionado sobre a génese da nova maioria desabafou: "A realidade ultrapassou-me."
"Eu não quero pronunciar-me sobre a solução atual", sublinhou, sem nunca referir os nomes do PCP e do BE, lembrou apenas que "não fazia parte da tradição política" chamar esses partidos para as conversas sobre o governo, porque "eram contra a União Europeia e a Nato".
Cavaco Silva diz que só se pronuncia nos Conselhos de Estado e aí, sublinha, "as reuniões são secretas".
A Presidência e o "ego"
Questionado sobre se algumas das mensagens do livro, sobre a atuação do PR, são "críticas" ao estilo do atual Presidente Marcelo Rebelo de Sousa, Cavaco Silva diz que parte do livro foi escrita ainda enquanto desempenhava funções no Palácio de Belém.
Sobre os baixos níveis de popularidade no final do mandato, o antigo Presidente foi igual a si próprio:
"Sondagens, ruídos mediáticos, trepidações políticas e espuma dos dias nunca influenciaram a minhas decisões" E acrescenta: "Quatro maiorias absolutas são suficientes para preencher meu ego".
Na entrevista, Cavaco Silva reafirmou o desejo de "uma vida fora dos holofotes: política nunca mais!"