Criado há cerca de 40 anos, o Centro de Documentação 25 de Abril tem um vasto acervo relacionado com a Revolução dos Cravos, mas que tem captado o interesse de investigadores de áreas diversas como a economia ou a sociologia.
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Um dos documentos que faz parte do acervo do Centro de Documentação 25 de Abril (CD25A) da Universidade de Coimbra é o mapa onde Otelo Saraiva de Carvalho foi assinalando as movimentações das unidades militares na madrugada da revolução.
Joana Moreira, arquivista do centro, refere-se ao mapa do Automóvel Clube de Portugal como um “documento icónico” e “único”.
“Está todo anotado pelo próprio Otelo [Saraiva de Carvalho]. No momento em que ele tinha indicação de que uma unidade saía de um local com direção aos destinos, anotava diretamente no documento”, conta.
Este é apenas um dos exemplos dos documentos que estão estão guardados em Coimbra, onde há também fotografias, aerogramas, registos vídeo e sonoros, autocolantes ou cartazes.
Segundo a diretora, Maria Cristina de Freitas, a última estimativa aponta para cerca de “quatro milhões de documentos” no acervo.
“A tipologia é muito variada, porque um centro de documentação tem esse perfil. Nós podemos recolher documentação de qualquer lado. Podemos recolher cópias, reproduções, originais únicos e exclusivos. Ou seja, nós temos
muito mais flexibilidade, mais liberdade do que um arquivo histórico, por exemplo”, explica.
A missão do CD25A, criado em dezembro de 1984, passa pela recolha de documentos sobre o 25 de abril e sobre a história contemporânea de Portugal, sem qualquer vertente de investigação. O objetivo final é disponibilizar todo este material a quem o quiser consultar.
“A esmagadora maioria da nossa documentação pode ser consultada e está acessível, mas também há conteúdos reservados”, acrescenta Maria Cristina Freitas.
Além das consultas presenciais, há ainda uma seleção do vasto acervo que está disponível online. Neste caso, segundo a diretora, é apenas uma “pequena parte” que foi selecionada consoante critérios de relevância e de frequência de consulta.
Maria Cristina de Freitas adianta que o centro tem sido procurado “cada vez mais” por investigadores de várias áreas do conhecimento, como a sociologia ou a economia. E nota um interesse em temas que designa de “microhistória”, exemplificando com a história das mulheres, dos pequenos grupos feministas, da habitação ou mesmo da saúde.
“É muito bom para nós porque alarga também o nosso espetro. Nós não somos conhecidos somente pelo 25 de abril, embora o 25 de abril seja a nossa marca e o nosso nome, mas já alargamos esse espetro para toda essa fase económica, histórica e social da segunda metade do século XX em Portugal. E é muito importante que os documentos falem e que tenham coisas interessantes a dizer”, conclui.
