Cavaco Silva era primeiro-ministro, Mário Soares era Presidente da República. E a coabitação foi o que se viu.
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500 gramas de lentilhas, 1 cenoura, 1 cebola, 1 nabo, 1 ramo de cheiros, sal, pimenta e azeite são os ingredientes do dia para o puré de lentilhas que Maria De Lurdes Modesto serve nas páginas do jornal A Capital. Ainda não era o tempo dos chefs que hoje nos são tão familiares mas a cozinheira sugeria panela de pressão para cozedura mais rápida.
E a água já levantava fervura entre Belém e S. Bento.
Mário Soares acabava de celebrar o segundo ano de mandato com o livro "Intervenções" e recados: não seria um Presidente corta-fitas e estaria presente na vida política, interferindo. Soares rejeitava assim o papel de contrapoder, promete coabitação mas define o mandato como "magistério de influência".
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Na manhã de 29 de fevereiro, Cavaco Silva fez o balanço de seis meses de mandato. A maioria absoluta conquistada em junho ganhava resistências na sociedade, o Governo enfrenta greves e o primeiro-ministro fala dos velhos do Restelo que se revelam sempre que um país inicia um novo ciclo histórico.
Garante modernidade e progresso e fala de um sonho ao alcance do país, ao mesmo tempo que avança com uma queixa-crime contra Helena Roseta. A deputada independente pelo PS acusa o Governo de alterar as contrapartidas ao negócio do jogo com a Estoril Sol, prejudicando a Estado em três milhões de contos, e fala de tráfico de influências.
Cavaco Silva esbarra em Cunha Rodrigues, Procurador-Geral da República, que manda arquivar a queixa-crime, lembrando ao primeiro-ministro que a Constituição de 1976 não permite exceções à regra da imunidade parlamentar. "Helena, a irresponsável" escreve José Miguel Júdice na crónica que assina no Semanário.
Eanes, outro protagonista, declara que não é candidato as presidenciais de 1991 e o antigo Presidente da República, fundador do PRD anuncia a saída do Partido Renovador Democrático. O senhor que se segue seia Hermínio Martinho.
O PS saía do VII Congresso com Vítor Constâncio a reafirmar-se como secretário-geral, mas haveria de se demitir em outubro desse mesmo ano.
Por estes dias, Mário Soares celebrava em Marrocos o aniversário da coroação do Rei. Uma visita privada de dez dias, mas nem por isso menos divulgada. Turismo com tâmaras e muito chá de hortelã.