Chega alega que denunciou malas no ex-gabinete de Arruda, mas Aguiar-Branco desvaloriza: "Mas a alertar para quê?"
O presidente da Assembleia da República confirma que falou com o vice-presidente do Chega na quinta-feira, mas considerou a conversa "absolutamente irrelevante" para a investigação
Corpo do artigo
O Chega alegou esta terça-feira que foi o partido quem denunciou a situação de malas suspeitas no antigo gabinete de Miguel Arruda, mas o Presidente da Assembleia da República desvaloriza e lembra que "estava uma investigação em curso".
"Foi o Chega que na quinta-feira comunicou ao presidente da Assembleia da República a existência desses objetos e alertou para a possibilidade de estarem relacionados com o produto do crime, de um crime que tinha sido publicamente exposto. Foi o Chega que pediu que fosse feita a necessária articulação entre o órgão de soberania, o parlamento e as autoridades judiciais", declarou André Ventura.
Questionado entretanto sobre estas declarações, Aguiar-Branco confirmou que falou com o vice-presidente do Chega na quinta-feira, mas considerou a conversa "absolutamente irrelevante" para a investigação ao alegado furto de malas por parte do deputado Miguel Arruda.
"Mas a alertar para quê? Estava uma investigação em curso. É verdade que o deputado Rui Paulo Sousa pediu para falar comigo após um plenário, é verdade que teve essa conversa comigo nos passos perdidos, como muitos outros pedem para falar comigo dessa forma e, portanto, no meu entender o que disse era irrelevante para efeitos da investigação em causa."
Em declarações aos jornalistas, o Presidente da Assembleia da República admitiu que, apesar da situação prejudicar a reputação da instituição, as operações ao gabinete do ex-deputado do Chega no Parlamento acontecerem "dentro do quadro normal" e "sem incidentes".
Segundo Aguiar Branco fez questão de salientar, "houve um despacho, esse despacho solicitou que se procedesse à apreensão de alguns bens que estavam supostamente na Assembleia da República (AR) e num determinado gabinete, foi solicitada a colaboração da AR para o efeito, dentro daquilo que era o quadro legal a Assembleia fê-lo".
"Foi solicitada a notificação do senhor deputado Miguel Arruda para poder estar presente ou um mandatário e também do grupo parlamentar do Chega. O que foi feito, foi conforme aquilo que foi solicitado pela Procuradoria-Geral da República, acompanhado por uma senhora magistrada e dentro do quadro legal que na situação exigia, nem foi levantado nenhum incidente quanto a isso", descreveu.
O resto é, para Aguiar Branco, retórica política: "Tudo decorreu sem incidentes, eu até fico surpreso que tipo de preocupação existe hoje (...) Tudo para além do que disse é retórica política, que não compete a mim enquanto presidente da AR estar a contribuir para isso."
Aguiar Branco deixou, por isso, um pedido: "O meu apelo é que todos os senhores deputados, todos, na forma como se comportam, como dizem, como põe no espaço público estas matérias tenham em atenção que é preciso defender e proteger o parlamento, respeitar e dignificar a instituição".
Sobre o pedido de levantamento da imunidade parlamentar do agora deputado não inscrito Miguel Arruda, o também ex-ministro adiantou que aquele pedido ainda não terá sido feito: "Estou a chegar de Espanha, que eu saiba até agora, não", disse, acrescentando, depois, que o pedido de Miguel Arruda para baixa médica também ainda não terá sido entregue.
Na quarta-feira, foi noticiado que Miguel Arruda tinha sido constituído arguido por suspeita de furto de malas, depois de na terça-feira a PSP ter realizado buscas nas casas do deputado em São Miguel e em Lisboa.
Na quinta-feira, Miguel Arruda, após uma reunião com André Ventura, na Assembleia da República, comunicou que iria desfiliar-se do Chega, partido pelo qual foi cabeça de lista pelos Açores, e passar a deputado não inscrito.