Coligação pode tornar IL "irrelevante", mas decisão é de Rocha. Para já, Cotrim ainda fala como candidato europeu
A maioria dos conselheiros, ao que apurou a TSF, prefere que o partido condicione a Aliança Democrática a partir do Parlamento.
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Esperava-se uma reunião acesa, mas o tom foi de “responsabilidade”. A Iniciativa Liberal (IL) pode estar às portas do Governo, mas Rui Rocha tem apelado à “prudência” e à “reserva” o que terá contagiado os conselheiros liberais. Houve, no entanto, vários avisos para que o partido “não se torne num CDS-PP”, perdendo a identidade numa coligação com Luís Montenegro.
A reunião do Conselho Nacional da IL durou nove horas, com 30 inscritos para intervir no primeiro ponto (com dez minutos para cada intervenção). Em cima da mesa, a análise dos resultados das eleições legislativas de 10 de março, mas também os “cenários governativos” que podem colocar os liberais em lugares ministeriáveis.
Antes do início da reunião, sem adiantar qualquer cenário, Rui Rocha prometeu ouvir os conselheiros antes de decidir o melhor para o partido (e, quem sabe, para o país). Ouviu, por isso, apelos para a responsabilidade e para que o resultado eleitoral aquém das expetativas "não se transforme numa vitória para a comissão executiva”, de acordo com relatos ouvidos pela TSF de vários membros do órgão do partido.
A IL aumentou o número de votos nas eleições legislativas, mas manteve o mesmo número de deputados (oito), e perdeu um mandato em Lisboa (de quatro para três). Em compensação, elegeu, pela primeira vez, pelo círculo eleitoral de Aveiro.
Mais do que lugares, os liberais querem conservar as “ideias”, sem que o partido seja engolido pelas posições da Aliança Democrática: “Entrar num Governo sem ter força para influenciar as políticas é um risco para um partido como o nosso”, disse um dos conselheiros, ouvido pela TSF.
Há quem tenha ido mais longe, defendendo mesmo, perante Rui Rocha, que a IL “não deve integrar um Governo nestas condições”. O conselheiro, afeto à anterior candidatura de Carla Castro, disse até que o partido “corre o risco de irrelevância”.
O próprio resultado eleitoral, na opinião do conselheiro Rafael Corte Real, reflete “a estagnação total do partido”: “Neste momento, não serve para nada, deixou de ser “cool” e está a perder gás em alguns centros urbanos importantes”.
“E agora, Ricardo Pais Oliveira, Miguel Rangel, Rodrigo Saraiva, Rui Rocha? Valerá a pena prosseguir com esta visão pequenina para a IL”, questionou o conselheiro.
Integrar Governo? As duas faces da moeda
Do núcleo mais próximo de Rui Rocha, também há quem defenda que o futuro deve passar pelo presente, ou seja, sem cargos no Executivo, mesmo que o risco eleitoral seja, nesta altura, uma incógnita: “Se for para cair, prefiro cair de pé, com as nossas ideias”, assume um dirigente do partido.
Rejeitar um convite de Luís Montenegro para a governação passará a ideia de “irresponsabilidade”, de acordo com um membro do Conselho Nacional, mas o partido “também sairá prejudicado” se integrar o Executivo, em termos eleitorais.
Mesmo que os liberais se juntem à solução governativa da Aliança Democrática, os 88 deputados que apoiariam o Governo continuariam longe dos 116 da maioria absoluta, pelo que o partido pouco acrescenta na aritmética parlamentar.
Cotrim de Figueiredo continua a falar como candidato às europeias
O nome do antigo presidente do partido, João Cotrim de Figueiredo, é um dos apontados a um lugar no Governo da direita, embora já tenha sido escolhido, numa das últimas reuniões do conselho nacional, como cabeça de lista às eleições europeias.
As próximas eleições para o Parlamento Europeu foram, de resto, um dos temas em discussão na longa reunião deste domingo, com a intervenção de João Cotrim de Figueiredo. O candidato a Bruxelas, mas também a candidato a ministro, não despe o fato de aspirante ao cargo europeu. Até ver, nada se alterou.