Com farpas ao líder do PS, Rangel diz que é possível investir na defesa e proteger o Estado Social
Aos jornalistas, após a abertura dos trabalhos do Fórum La Toja, em Lisboa, o chefe da diplomacia portuguesa puxou pelos galões do trabalho realizado pelo atual Governo e ponderação na forma como a União Europeia irá responder às sanções que Trump deve anunciar esta quarta-feira. Pelo meio, críticas a Pedro Nuno Santos
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O Ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros afirma que não é incompatível o investimento na defesa e a aposta no estado social: "Ao contrário do que alguns querem fazer crer, não existe nenhuma incompatibilidade entre o Estado Social e uma prioridade política dada à defesa e à segurança. Aqueles que, como o líder da oposição, Pedro Nuno Santos, estão sempre a defender impostos altos para garantir o Estado Social, na verdade, nunca investiram, pelo menos, enquanto ele foi ministro, no Estado Social. Pelo contrário, desinvestiram e nós, desagravando impostos, criámos mais crescimento e criando mais crescimento, mais receita para políticas sociais. Julgo que isto é uma receita que, apesar de tudo, é simples de perceber. Temos superavit nas contas públicas e fizemos investimento social como nenhum Governo nos últimos dez anos". Rangel insiste que o investimento foi feito a um nível que os oito anos de governos socialistas "não foram capazes de fazer".
Paulo Rangel lembrou que fez neste fórum na Galiza a sua primeira intervenção como chefe da diplomacia portuguesa e agora está a fazer uma das últimas. Quanto às sanções que os EUA vão aplicar à União Europeia a partir desta quarta-feira, é preciso esperar para ver e depois responder de forma ponderada: "Vamos aguardar. Eu penso que tem de ser uma resposta inteligente, uma resposta hábil, o que significa que, provavelmente, em alguns setores, tem de ser dura e em outros setores terá de ser calibrada. Para nós, é muito importante compreender exatamente quais são os setores afetados e quais são os setores em que a União Europeia vai responder, porque os seus efeitos nos diferentes mercados europeus são efeitos assimétricos, pode haver setores que sejam mais atingidos do que outros e isso também atingir países em medidas diferenciadas."
Para o MNE, a resposta da União Europeia tem de atender a esse equilíbrio e evitar "algo que será sempre negativo". "Subir tarifas nesta fase é sempre negativo e implica sempre uma contrarresposta que é negativa, todos perdem, perdem os Estados Unidos e perde a União Europeia, portanto perde a economia global. Ninguém ganha e perdendo a economia mundial, perdem todos os cidadãos e todas as cidadãs que trabalham todos os dias para conduzirem as suas vidas". Rangel recomenda, por isso, cautela e ponderação:
"Ver exatamente qual é o figurino das medidas que vão ser tomadas, no fundo, as tarifas que vão ser impostas e a que países também, porque provavelmente não será apenas a União Europeia e isso pode ter um outro impacto também."
Rangel afirma que o Governo liderado por Luís Montenegro "fez despesa social como mais nenhum, para nós, não é despesa, é investimento social, como mais nenhum".
"Durante oito anos disseram que não podia haver superavit se não diminuísse o investimento e, portanto, não se aumentaram as polícias, não se aumentaram os professores, não se aumentaram os oficiais de justiça, não se tratou da saúde, esqueceu-se do Serviço Nacional de Saúde em nome de superavit e aquilo que este Governo veio demonstrar foi que é possível ter um superavit e não pequeno, de 0,7%, e ter feito um investimento social sem paralelo nos últimos 10 anos", refere.
Na sua intervenção perante o Fórum que decorre na Fundação Calouste Gulbenkian, esta manhã, o MNE destacou a ironia do destino que lhe coube: "Quis o destino que tem mais sabedoria do que por vezes se pensa, que o Fórum La Toja de 2024 me tivesse proporcionado a primeira intervenção pública na qualidade do Ministro do Estado e dos Negócios Estrangeiros e quer o destino agora, destino que tem mais ironia do que às vezes se imagina, que seja esta uma das últimas intervenções públicas que profiro nessa qualidade. Não querendo entrar num mundo esotérico dos oráculos, assinalo apenas esta coincidência que pode também ser interpretada de forma benigna como uma prova do carácter estruturante, do carácter essencial das relações ibéricas para ambos os países. E aí, com astros ou sem astros, com destino ou sem destino, posso confirmar após um ano de experiência no cargo, as relações ibéricas são mesmo essenciais para ambos os povos, para ambos os Estados e para a afirmação de Portugal e de Espanha na Europa e no mundo."