Com o programa fundador do PSD na mão, Pacheco Pereira critica operação policial no Martim Moniz: "É uma vergonha"
No Programa da TSF e CNN Portugal O Princípio da Incerteza, Alexandra Leitão acusa o Governo de "cavalgar uma ideia que sabe ser falsa" ao associar "insegurança e imigração", uma atitude que diz ser "muito mais própria e próxima das ideias de um partido extremista e populista de direita radical, como é o Chega"
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O historiador Pacheco Pereira tece duras críticas à operação policial levada a cabo na quinta-feira, no Martim Moniz, em Lisboa, afirmando, com o programa do PPD na mão, que esta ação "é uma vergonha". Quem partilha da mesma opinião é a líder parlamentar do PS, Alexandra Leitão, que nota que "não há um branco encostado à parede" e argumenta que isso "não pode ser por acaso".
No programa da TSF e CNN Portugal O Princípio da Incerteza, Pacheco Pereira denuncia desde logo a "componente rácica" da operação, destinada a dar "visibilidade ao combate à criminalidade". Afirma que esta iniciativa "envenena tudo", porque é "contra" um grupo específico de pessoas.
O historiador fala por isso numa "duplicidade de critérios", lamentando nunca ter visto a mesma atitude ser tomada em relação a "organizações criminosas que toda a gente conhece, como são as claques de futebol".
"Nunca vi uma operação deste género contra os No Name Boys, que pelos vistos deram cabo de um restaurante ontem e quando a polícia chegou já não estava ninguém. Por coincidência, eram centenas de pessoas e fugiram todas a tempo. Ou então contra os superdragões, que em muitas circunstâncias também estiveram e estão - as claques de futebol - envolvidas em atividades criminosas", atira.
Pacheco Pereira defende que a operação policial no Martim Moniz, que encostou dezenas de imigrantes à parede, "é uma vergonha para um partido como o PSD e, em bom rigor, também devia ser para o CDS". Lembra assim o princípio defendido por este último partido: "Seja quem for a pessoa, ela deve ser tratada com dignidade na sua qualidade de pessoa humana."
Considera que foi precisamente a "dignidade" no tratamento aos imigrantes que ficou a faltar na ação policial e argumenta, com o programa original do PPD na mão, que "o aparato de visibilidade" é "uma vergonha".
Já o antigo ministro de Administração Interna, Miguel Macedo, entende que a PSP atuou com absoluta cobertura legal. No entanto, ao contrário do que fez o primeiro-ministro, o social democrata recusa chamar a esta ação policiamento de visibilidade.
"Esta operação é uma operação especial de prevenção criminal. Visibilidade é outra coisa. Essa visibilidade é importante para aquilo que muitas vezes se designa o sentimento subjetivo de insegurança, que é uma coisa diferente daquilo que se tem falado ultimamente a propósito desta conversa toda", explica.
Afirma, contudo, que a revista do sujeito pelas costas "não é um procedimento específico da polícia portuguesa" e sublinha: "Não alinho em nenhuma das demagogias tem sido feita."
Já para a líder parlamentar do PS, Luís Montenegro está a aproximar-se do discurso radical do Chega. Alexandra Leitão critica que esteja a ser criada "uma ideia de ligação entre a imigração e a insegurança, que o Governo em vez de promover, devia combater".
"Não há um branco encostado à parede e isto não pode ser por acaso", evidencia.
A socialista argumenta ainda que esta operação "não causa tranquilidade". Pelo contrário, "só causa alarme".