Com Portugal "reconhecido por todos", Marcelo quer ver Grécia "numa outra fase"
Em Atenas, Marcelo defendeu que, depois de uma "crise profunda", Portugal é um exemplo de estabilidade política e de controlo financeiro. Grécia é "povo amigo" e relações "não podiam ser melhores".
Corpo do artigo
O mês de agosto ainda vem longe e, até lá, a Grécia precisa de avançar com garantias e medidas que tranquilizem Bruxelas e que permitam ao país sair com alguma suavidade do programa de assistência financeira, mas, em Atenas, no primeiro de três dias de uma visita de Estado, Marcelo Rebelo de Sousa, que não poupou nos elogios à recuperação portuguesa no período pós-crise, assinalou, desde já, que o futuro para o "povo amigo" da Grécia só pode ser risonho.
"Devo reconhecer que também a Grécia está num processo feito com o mérito do povo grego, e dos seus responsáveis, bem entendido, e que é um processo que se espera que possa vir a culminar dentro de meses na passagem a outra fase", disse o chefe de Estado português, durante um encontro com dezenas de membros da comunidade portuguesa, referindo-se a uma "fase importante para a economia, para as finanças e para a sociedade" helénica.
Com portugueses e gregos a assistir à intervenção que decorreu num hotel junto da Praça Syntagma - que, em 2015, se tornou o palco principal das muitas manifestações anti-austeridade -, Marcelo justificou o vaticínio e lembrou que também Portugal mergulhou e conseguiu sair de uma "crise profunda", constatando que, se dúvidas houvesse em relação à recuperação portuguesa, hoje, o trabalho feito é tido como um exemplo fora de portas.
"Apresenta indicadores financeiros, mas também económicos e sociais que são reconhecidos por todos, pela União Europeia, mas por todos aqueles que dentro e fora acompanham a evolução portuguesa", afirmou, não deixando de defender que o caminho para a saída do programa de resgate tem sido um "processo virtuoso". Nesse sentido, e num tom que em muito se assemelhou a uma mensagem de esperança para o povo grego, Marcelo, sempre partindo do exemplo português, congratulou-se pelo facto de a visita de Estado - a primeira desde a presidência de Jorge Sampaio -, acontecer num momento de "boas notícias" para os dois países, destacando Portugal como "exemplo de estabilidade política, com um sistema político estável, com controlo financeiro interno e externo, e com um crescimento económico acompanhado do crescimento do emprego" que, na Grécia, também continua a aumentar.
Portugal apoia Grécia na questão migratória. "Não é em teoria", sublinha Marcelo
Durante o encontro com a comunidade portuguesa - que Marcelo defendeu ser composta por "empreendedores" e por pessoas que representam algum do "contributo" nacional para a segurança da Europa -, o chefe de Estado, que na quarta-feira visita um campo de refugidos, em Tebas - a cerca de uma hora de Atenas -, deixou ainda claro que Portugal "compreende e apoia o exemplo" dado pela Grécia na gestão da crise migratória e no acolhimento de refugiados.
"Não é compreender em teoria, sem o apoiar. Apoiando-o, com uma disponibilidade em termos de acolhimento, reinstalação em Portugal daqueles que o quiserem", sublinhou, acrescentando que esta é também uma questão pacífica no panorama político português: "Não há neste ponto, como em muitos outros, divisão entre partidos, entre parceiros económicos e sociais relativamente a matéria de migrações e de refugiados. Falamos a uma só voz", disse Marcelo Rebelo de Sousa, que não deixou de notar que Portugal e Grécia convergem em "facetas essenciais" do que vai ser discutido.
Esta terça-feira, o presidente da República tem encontros agendados com o homólogo grego, Prokopios Pavlopoulos, com o primeiro-ministro grego, Alexis Tsipras, e com o presidente do parlamento helénico, Nikos Voutsis. Antes, participa na deposição de uma coroa de flores no Monumento ao Soldado Desconhecido e, durante a tarde, é agraciado com o doutoramento honoris causa pela Universidade Nacional de Atenas.