Congresso do PSD. Medidas anunciadas por Montenegro "revelam que máscara de moderação do Governo caiu"
As sete medidas para o futuro, apresentadas pelo primeiro-ministro no discurso de encerramento do Congresso do PSD, estiveram em debate n'O Princípio da Incerteza. As mudanças na disciplina de cidadania foram as que geraram mais controvérsia
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Alexandra Leitão considera que o discurso de Luís Montenegro, no fim do congresso do PSD, revela que "caiu a máscara ao Governo". No programa O Princípio da Incerteza, da TSF e CNN Portugal, a líder da bancada parlamentar socialista acusa o primeiro-ministro de aproximação ao Chega, seguindo uma agenda "ultraconservadora".
"É um discurso muito revelador de uma máscara que caiu. A máscara da moderação deste Governo caiu. É um Governo que está a fazer tudo para ficar com os eleitores do Chega, ficando a defender as ideias do Chega e isso é uma agenda ultraconservadora, antiprogressista, que, francamente, desmerece até, de certa forma, a tradição do Partido Social Democrata", considera a líder parlamentar do PS.
No domingo, Luís Montenegro apresentou sete medidas, e, entre elas, está o reforço do policiamento de proximidade, um grande projeto de reabilitação da Área Metropolitana de Lisboa e a revisão dos programas do ensino básico e secundário, incluindo a disciplina de educação para a cidadania. Relativamente a esta medida para a área da educação e à forma como foi acolhida no Congresso, Pacheco Pereira aponta-a como um ponto negativo e alerta para as implicações políticas desta mudança.
"Quando Montenegro faz aquele conjunto de propostas, algumas inteiramente aceitáveis, a maior quantidade de palmas foi sobre a proposta da cidadania. Nem é em si a proposta, é as palmas. Isso é um conteúdo perigoso do ponto de vista político, porque eu também não estou de acordo com o atual programa da cidadania, eu acho que é bom voltarmos para um princípio constitucional. Agora vamos ver o que se vai escolher da Constituição. Por exemplo, quando nós temos nas escolas filhos de muçulmanas e muçulmanos, por exemplo, ou até ciganos, nalguns casos, a condição feminina e a leitura do que vem na Constituição sobre a condição feminina é um elemento fundamental da cidadania. As mulheres não podem ter um papel secundário e, portanto, temos de ter um programa que tenha ideologia, mas que seja a ideologia da democracia, porque a democracia tem uma determinada ideologia, que é somos iguais, fraternos, não há hierarquia", explica.
Já o antigo ministro do PSD Miguel Macedo saúda, sem reservas, a proposta de Montenegro. "Eu acho muito bem que, com a nova realidade da escola, esta disciplina se vire também - ou sobretudo - para aquilo que resulta dos direitos, liberdades e garantias da Constituição, numa verdadeira educação para a cidadania, que tem como baliza, critério e limites aquilo que está na Constituição, que para mim é absolutamente evidente e indiscutível", sublinha.
Ainda n'O Princípio da Incerteza, Pacheco Pereira falou de Pedro Santana Lopes. O social-democrata não entende como se pode receber de braços abertos uma pessoa que fundou um partido contra o PSD.
"Neste caso, tem muito a ver com a questão presidencial. Ele vai lá para afrontar Marques Mendes e a hipótese de Marques Mendes poder ser escolhido e, ao mesmo tempo, fazer a rábula que sempre faz em todos os congressos, dentro ou fora do PSD. Do meu ponto de vista, o que é mau é que o partido é capaz de ser feroz com pessoas que lhe fazem críticas políticas - não me refiro sequer ao meu caso, porque eu, quando vou a qualquer sítio, sou extremamente bem recebido pelas bases do partido. Um homem que criou um partido contra o PSD, um partido que concorreu eleitoralmente contra o PSD, é recebido como se fosse uma espécie de representante in partibus infidelis, para utilizar uma fórmula canónica, do PSD. Eu acho isso negativo", acrescenta.
