Visita oficial do primeiro-ministro arranca esta manhã, no dia em que os angolanos comemoram o Dia do Herói Nacional, Agostinho Neto. Por parte da comitiva portuguesa, a palavra de ordem é confiança.
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É num ambiente rodeado de grandes expectativas, mas também de muita confiança, que António Costa chega, esta manhã, a Luanda, nesta que é a primeira visita oficial de um primeiro-ministro português a Angola desde que Pedro Passos Coelho passou pelo território em novembro de 2011.
Ultrapassado o "irritante" nas relações com Angola , provocado pelo caso que envolveu as acusações do Ministério Publico português ao antigo vice-presidente angolano Manuel Vicente, fonte da diplomacia portuguesa adianta que a comitiva está segura de que a visita vai decorrer num "espírito muito positivo" e de "grande confiança" entre os dois países, até porque, sublinha a mesma fonte, a preparação da visita foi "muito intensa" e serve agora de palco para que ambas as partes possam "desbloquear uma série de dossiês" que estiveram parados nos últimos anos.
De Portugal, há mesmo a garantia de que o empenho na resolução dos problemas é mútuo e que há uma verdadeira "vontade de virar a página" nas relações entre Lisboa e Luanda.
Desde que João Lourenço tomou posse como presidente da República de Angola, foram três os encontros entre os dois líderes, mas só agora, cerca de um ano depois da posse, surge a visita oficial na qual António Costa irá encontrar-se com o chefe de Estado angolano e com o presidente da Assembleia Nacional, Fernando da Piedade Dias dos Santos.
Durante as cerca de 48 horas em Luanda, numa visita que é considerada pelo Executivo como "muito importante", a comitiva liderada pelo primeiro-ministro vai fazer os possíveis por estreitar as relações políticas, mas também económicas, com a assinatura de vários protocolos e parcerias , na tentativa de recuperar o "dinamismo da relação histórica" entre os dois países.
À chegada a Luanda, num dia em que os angolanos celebram o Dia do Herói Nacional, António Costa é recebido pelo ministro das Relações Exteriores de Angola, Manuel Augusto. Com o primeiro-ministro português viajam também os ministros dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, e da Agricultura, Capoulas Santos. A comitiva integra ainda a secretária de Estado dos Negócios Estrangeiros e Cooperação, Teresa Ribeiro, o secretário de Estado da Internacionalização, Eurico Brilhante Dias, e Ricardo Mourinho Félix, secretário de Estado Adjunto e das Finanças.
Há um "apelo inevitável" para a cooperação judicial entre Portugal e Angola
Para o diretor do jornal angolano "O País", o "irritante" do "caso Manuel Vicente" está ultrapassado, depois de Portugal ter remetido o processo para a justiça angolana, mas é preciso agora perceber que marcas deixou nas relações entre Portugal e Angola. José Kaliengue considera, no entanto, que as perspetivas são boas no que diz respeito à cooperação judicial entre os dois países.
"Como se sabe que muito do capital angolano se refugiou em Portugal, há aqui um apelo inevitável à cooperação judicial e judiciária. Vamos ver como é que, a partir de agora, se cozinha isto e se recupera essa relação, depois daquele incidente, do tal 'irritante'. É preciso saber se ficaram mágoas, mossas e pontos de interrogação", diz José Kaliengue.
Ouvido pela TSF, o diretor do jornal "O País" defende, contudo, que, em Luanda, durante a visita, pouco haverá a acrescentar no que diz respeito aos discursos dos dois líderes, porque "o que havia a fazer já foi feito".
"Não creio que venham a surgir outros grandes problemas, antes pelo contrário, passará, eventualmente, por uma cooperação entre Portugal e Angola, fundamentalmente no plano judicial", acrescenta.
José Kaliengue diz ainda que o foco da visita terá de estar, obrigatoriamente, no estreitamento das relações comerciais, lembrando que a crise financeira angolana que começou em 2014 fez diminuir as trocas comerciais entre os dois países e levou ao abandono de muitas micro e pequenas empresas portuguesas de Angola. O tempo é, por isso, considera, de encontrar mecanismos que façam regressar os empresários que ajudam a dinamizar a economia.
"Entre Portugal e Angola o nível de trocas comerciais baixou muito e é esta visita que leva a esperança de se poderem relançar as trocas comerciais", afirma o diretor do jornal "O País".