Crise económica, inflacionista, ambiental e pandémica: "Tivemos de enfrentar e vencemos"
O primeiro-ministro cessante fez um balanço dos últimos anos de governação, em São Bento, destacando quatro crises que Portugal teve de enfrentar e oito mudanças estruturais conseguidas pelo PS.
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O primeiro-ministro cessante, António Costa, fez esta quarta-feira a despedida final, em São Bento, com um balanço dos últimos oito anos de governação, destacando as quatro crises e oito mudanças estruturais conseguidas pelo PS.
"Foram oito anos onde tivemos de enfrentar e resolver múltiplas crises", começou por destacar António Costa, elogiando o "sistema financeiro estabilizado" e o banco público português. Recordando os tempos da pandemia, o primeiro-ministro cessante disse que foram tempos que "o Estado não se pôde dar ao luxo de fazer contas ao que era necessário gastar, nem contar com as receitas".
"Mas é precisamente para isso que serve um saldo orçamental equilibrado. É para permitir fazer face aos imprevistos", prosseguiu. António Costa considerou que "a boa notícia" agora é o país ter conseguido recuperar e fechar o ano de 2023 com um excedente orçamental.
Os incêndios florestais também mereceram atenção no discurso de António Costa, que se referiu ao problema como "a segunda crise" que o governo socialista teve de enfrentar.
"A resposta que foi dada em 2017 (...) permitiu que os resultados dos seis anos posteriores fossem claramente diferentes. Se somarmos a área total ardida entre 2018 e 2023, é 67% do que foi a área ardida só em 2017", afirmou, sublinhando que "é importante o país não esquecer que somos um país com alto risco de incêndio".
É uma realidade e com as alterações climáticas o risco pode aumentar, por isso, estes resultados não devem fazer-nos baixar a guarda.
Depois do balanço económico e ambiental, Costa centrou-se na "terceira grande crise", na qual, disse, "Portugal teve um desempenho digno de registo".
"Somos o primeiro país do mundo a atingir uma taxa de cobertura vacinal de 85%. O esforço de apoio à economia e às famílias permitiu-nos ser um dos países que melhor saiu daqueles anos", destacou, lamentando tratar-se de "uma saída de curta duração" com a chegada da guerra que provocou uma rutura nas cadeiras de abastecimento e, posteriormente, "a maior crise inflacionista dos últimos 30 anos".
O primeiro-ministro cessante mostrou-se confiante de que Portugal irá conseguir manter a trajetória de redução da inflação, mesmo que "lentamente" e que a subida das taxas de juro do BCE tenha tido um "efeito paradoxal" com efeitos negativos para as famílias portuguesas.
"Não obstante estas quatro crises que tivemos de enfrentar e vencemos, foi possível alcançar ao longo destes oito anos mudanças estruturais importantes"
António Costa enumerou sete mudanças estruturais do Governo socialista. A primeira está relacionada com o crescimento, condicionado pela entrada da China no mercado internacional e pela adesão ao euro: "Entre 2020 e 2015, o país alterou entre a recessão e a estagnação. Desde 2016 para cá a realidade é bastante diferente (...). Nestes oito anos o país cresceu dez vezes mais do que aquilo que tinha crescido nos 15 anteriores."
Segue-se o emprego. O socialista destacou "o número recorde de pessoas a trabalhar em Portugal" num "contexto em que foi possível o salário mínimo ter crescido" e que, por sua vez, permitiu alcançar outro objetivo: a redistribuição da riqueza. António Costa lembrou os aumentos das pensões, as descidas do IRS, a gratuitidade dos manuais escolares, a "grande reforma" dos transportes públicos e a taxa social de energia.
Do emprego à qualificação, a quarta mudança estrutural socialista é, para António Costa, o maior número de jovens com Ensino Superior completo que "tem permitido recursos humanos mais qualificados e uma transformação na economia".
Aquilo que dá competitividade a uma economia moderna é a capacidade de ter empregos qualificados e ser inovador.
Para o primeiro-ministro cessante, importa ainda destacar as políticas sociais "que permitiram reduzir a desigualdade" em Portugal e "o maior desafio que a humanidade enfrenta: as alterações climáticas".
"Somos o primeiro país do mundo a assumir o objetivo de atingir a neutralidade carbónica até 2050. A nossa lei do clima impôs-nos maior ambição a fixar esta meta em 2045. Desde 2017, conseguimos reduzir já em 17% as emissões de gases com efeito de estufa", disse.
Por fim, Costa referiu-se à descentralização nas "três áreas mais difíceis": educação, social e saúde. Relativamente a esta última, reconheceu que não aconteceu a 100%, mas "estamos quase lá".
"É difícil sintetizar oito anos. Queria simplesmente enunciar os resultados alcançados nas quatro crises que tivemos de enfrentar e enumerar estes sete domínios que me parecem relevantes para a sociedade portuguesa (...)", concluiu, esclarecendo que, durante o discurso, não apresentou cenários, mas sim factos.
Notícia atualizada às 11h10