Críticos de Pedro Nuno atiram-se à lista para as europeias: "fechada" e "sectária"
Os críticos de Pedro Nuno Santos apontam à inexperiência política de vários candidatos, como a cabeça de lista Marta Temido. Eurodeputados "surpreendidos" com renovação total.
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Pedro Nuno Santos tomou decisões em circuito fechado, os convites surgiram poucas horas antes da aprovação da lista, e as decisões do secretário-geral socialista são vistas como “sectárias” pelos críticos internos, afetos a José Luís Carneiro. A inexperiência de Marta Temido é uma das críticas ouvidas pela TSF. O desconforto também se fez sentir em Bruxelas.
Dos nove deputados que o PS tem em Bruxelas, lugares conquistados nas eleições de 2019, nenhum segue para a novo ciclo europeu. Pedro Marques foi cabeça de lista há cinco anos e é vice-presidente do Grupo dos Socialistas e Democratas, mas nem isso lhe valeu um lugar na lista.
Também o vice-presidente do Parlamento Europeu Pedro Silva Pereira fica de fora, assim como Carlos Zorrinho, que lidera a delegação do PS em Bruxelas. As mexidas causaram “surpresa” na delegação, de acordo com relatos feitos à TSF, até porque os deputados socialistas “têm reputação” e mostraram “produtividade” ao longo do último mandato.
“Os eurodeputados eram bons. Saem todos”, refere à TSF um dirigente do PS próximo de José Luís Carneiro. Além disso, as posições que os socialistas conquistaram nos últimos anos “caem” e esse é “um caminho que demora a fazer”.
Carneiro queria fazer parte da decisão. Medina terá sido sondado
Na reunião da Comissão Política do PS, que decorreu na noite de segunda-feira, José Luís Carneiro mostrou mesmo desagrado por não ter sido ouvido por Pedro Nuno Santos para a elaboração da lista, lembrando os apelos para a união interna após os resultados das eleições diretas.
Pedro Nuno Santos, questionado pelos jornalistas, respondeu na noite de segunda-feira que “a eleição interna já lá vai”. “O PS tem órgãos eleitos e um secretário-geral eleito”, lembrou.
No círculo próximo de José Luís Carneiro Fernando Medina surgia como o melhor nome para encabeçar a lista do PS ao Parlamento Europeu e, de acordo com um dirigente socialista, o antigo ministro das Finanças foi mesmo sondado para integrar a candidatura. “Depois disseram-lhe que, afinal, não tinham lugar para ele”, acrescenta.
“É preciso saber dos assuntos, não basta ser presidente da concelhia de Lisboa”
O nome de Marta Temido apanhou alguns de surpresa, que notam até alguma “inexperiência” da antiga ministra da Saúde para o palco europeu: “É preciso saber dos assuntos, não basta ser presidente da concelhia de Lisboa”.
Mas há mais. A lista também tem falta de “nomes da sociedade civil” e é feita apenas com candidatos próximos de Pedro Nuno Santos. “Não há abertura à sociedade civil, é uma lista fechada e sectária”, nota um socialista. Há quem aponte mesmo à escolha do quarto nome da lista, Bruno Gonçalves, de 27 anos, que embora tenha sido indicado pela federação de Braga, “é um jovem sem experiência”.
A escolha de Francisco Assis para número dois da lista inviabilizou a entrada do presidente da Câmara de Gaia, Eduardo Vítor Rodrigues, que apenas teria hipótese de seguir em nono lugar. O nome do autarca esteve em cima da mesa, mas a federação do Porto acabou “solidária” com o secretário-geral validando Francisco Assis.
“Ir em nono lugar seria impensável”, explica à TSF um membro da comissão nacional do partido.
Deputados passam a eurodeputados
Também o anterior candidato à liderança do partido Daniel Adrião deixou críticas à composição da lista na reunião da direção alargada do partido, no Largo do Rato. O próprio revelou à TSF que criticou “o facto de nos primeiros três lugares da lista estarem três pessoas que acabaram de ser eleitos deputados à Assembleia da República”.
A referência é para Marta Temido, Francisco Assis e Ana Catarina Mendes, que garantiram a eleição para o Parlamento nas eleições legislativas de 10 de março, e, agora em maio, saltam para o Parlamento Europeu.