Das eleições, às greves e ao ambiente. O que preocupa os partidos em ano eleitoral
Marcelo Rebelo de Sousa recebeu o Bloco de Esquerda, o CDS, o PCP, 'Os Verdes' e o PAN no âmbito dos contactos regulares e ouviu as preocupações dos partidos num ano eleitoral.
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Alguns dos partidos com assento parlamentar estiveram, esta tarde, reunidos com o Presidente da República e levaram a debate alguns dos assuntos que mais preocupação gera num ano eleitoral.
Catarina Martins, Assunção Cristas, Jerónimo de Sousa, Heloísa Apolónia e André Silva lideraram as comitivas dos respetivos partidos e levaram a Marcelo Rebelo de Sousa diversos temas, desde o descongelamento das carreiras dos professores, às greves dos enfermeiros, mas também as eleições Europeias e até as questões ambientais.
Na última reunião da tarde, Catarina Martins transmitiu ao Presidente da República, tal como fez numa reunião com o primeiro-ministro a semana passada, ser preciso desbloquear o impasse entre Governo e trabalhadores dos Estado sobre a contagem do tempo de serviço.
"Nós reunimos a semana passada com o senhor primeiro-ministro e agora transmitimos ao senhor Presidente da República que achamos que é necessário desbloquear uma situação de impasse entre o Governo e os trabalhadores do Estado", referiu.
Admitindo que "não é possível no último ano da legislatura acolher todas as reivindicações ou fazer tudo de uma vez", para a coordenadora do BE "há uma reivindicação essencial e que pode desbloquear a situação", dando assim "melhores condições aos serviços públicos, aos trabalhadores e a todos os utentes".
De acordo com Catarina Martins, o BE aproveitou este encontro em Belém para transmitir a posição "sobre uma matéria que tem sido de complicada resolução em Portugal, que tem criado algum mal-estar e que tem a ver com os trabalhadores dos serviços públicos em Portugal".
Questionada sobre qual foi a resposta do Governo a esta posição na referida reunião com António Costa, Catarina Martins respondeu apenas que o BE tem "divergências com o Governo sobre esta matéria", não adiantando se houve algum avanço.
"Governo transformou numa direção de campanha do PS"
A líder do CDS-PP, Assunção Cristas, reafirmou ao Presidente da República que o "Governo se transformou numa direção de campanha do PS", criticando o trabalho do atual executivo por, neste momento, ser apenas "pré-eleitoral".
Depois de cerca de uma hora e meia de reunião, Assunção Cristas foi questionada sobre a polémica que tem envolvido as notas da Comissão Nacional de Eleições (CNE).
"Tive a oportunidade de reafirmar junto do senhor Presidente da República a nossa perceção de que o Governo se transformou numa direção de campanha do PS. De resto, isso mesmo foi uma das críticas que apresentamos aquando da moção de censura ao Governo, que o Governo remodelado se tinha transformado numa direção de campanha do PS e isso hoje é por demais evidente", criticou.
Na opinião da líder centrista, o "Governo não faz outra coisa que não seja gerir o tempo eleitoral que lhe resta até às europeias, e depois até às legislativas", e por isso é que o CDS-PP havia proposto que o melhor "teria sido abreviar este ciclo eleitoral e ter eleições já conjuntamente com as europeias".
O CDS-PP, segundo a presidente do partido, "trabalha para poder representar uma alternativa de centro-direita em Portugal".
"Não acreditamos numa solução das esquerdas e do socialismo para o nosso país, achamos que é altura de mudar e fazemos tudo aquilo que está ao nosso alcance para o fazer", prometeu.
De acordo com Cristas, o partido que preside quer "ser alternativa" e não vai apoiar "António Costa em nenhuma circunstância, porque não faz bem ao país e o país precisa de uma verdadeira alternativa de centro-direita em Portugal".
PCP recusa "desenhos prévios" das eleições
O secretário-geral do PCP, Jerónimo de Sousa, recusou-se a fazer "desenhos prévios" das duas "batalhas eleitorais" deste ano, mas garantiu que os comunistas continuam "disponíveis para dar uma contribuição à luz do interesse nacional".
Pouco mais de uma hora depois de ter chegado ao Palácio de Belém acompanhado pelos comunistas João Oliveira, João Ferreira e Manuela Pinto Ângelo, Jerónimo de Sousa falou aos jornalistas no final da reunião com o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, que hoje e terça-feira recebe os partidos no âmbito dos contactos regulares.
"Vêm aí duas batalhas eleitorais, não fazemos desenhos prévios tendo em conta que é o povo português que decidirá desse resultado, mas, da nossa parte, uma afirmação clara de que continuamos disponíveis para dar uma contribuição à luz do interesse nacional, de respeito por quem trabalha ou quem trabalhou, de respeito pelos serviços públicos que devem funcionar bem", afirmou.
A perspetiva do líder comunista é a de que "os resultados, depois em outubro, determinarão com certeza soluções políticas e também programáticas".
'Os Verdes' pedem escolhas conscientes
O Partido Ecologista 'Os Verdes' (PEV) defendeu que os cidadãos devem fazer escolhas conscientes nas eleições que se disputam este ano e apelou a que existam no Parlamento Europeu vozes "que se liguem à realidade concreta".
"Sabemos que este ano de 2019 temos vários atos eleitorais, onde é preciso os cidadãos fazerem escolhas conscientes e estarem bem informados, bem dotados de informação para poderem fazer justamente essas suas opções", disse Heloísa Apolónia.
Por isso, o PEV transmitiu preocupação a Marcelo Rebelo de Sousa, pelo facto de a União Europeia estar atualmente "muito afastada dos cidadãos, muito afastada da necessidade de dar prioridade em termos de respostas aquelas que são as necessidades dos cidadãos dos mais diversos estados-membros, e portanto, da necessidade, designadamente no Parlamento Europeu, de haver vozes com este realismo e também vozes não subservientes aqueles que são os desejos das elites da União Europeia".
"Precisamos de vozes, designadamente no Parlamento Europeu, que se liguem à realidade concreta, aos territórios concretos e às pessoas em concreto e que manifesta justamente propostas que vão no sentido de dar essas respostas", defendeu.
PAN quer representação ambientalista na Europa
O partido Pessoas-Animais-Natureza (PAN) quer aumentar a sua representação nas próximas eleições legislativas e formar um grupo parlamentar na Assembleia da República, assumiu, esta segunda-feira, o líder do partido. André Silva referiu ainda que o PAN quer "ter uma representação ambientalista no Parlamento Europeu, através do Francisco Guerreiro, cabeça de lista às europeias".
Em debate com o chefe de Estado esteve também a greve climática levada a cabo por estudantes na sexta-feira.
Para André Silva, esta iniciativa demonstra que "os jovens, ao contrário do que muitas vezes se diz, estão politizados, estão profundamente interessados nestas matérias", e que "têm muita consciência dos problemas ambientais e do combate às alterações climáticas".
Na opinião do deputado, os jovens "têm, de facto, interesses e prioridades completamente diferentes da classe política, da maior parte dos partidos, que discutem acima de tudo interesses corporativos, lutas político-partidárias".