De olhos postos na Madeira, BE admite “geringonça” nos Açores se houver adeus total do PS à direita
A oito dias das eleições nos Açores, Marisa Matias foi à região autónoma procurar ajudar o BE a subir na votação e contrariar o crescimento de forças extremistas. António Lima, candidato açoriano do Bloco, não descarta diálogo com o PS, mas avisa para a colagem à direita com um alerta sobre outro arquipélago.
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“Parabéns!”, “Muitos parabéns!”, “Ah, os meus parabéns!” Este sábado, António Lima recebe parabéns de todos quanto encontra. E, não, não é por fazer anos. “A minha filha nasceu ontem”, conta, sorridente. O candidato do Bloco de Esquerda aos Açores foi pai de uma menina. Chama-se Mariana. E, depois de Mortágua, “é mais uma Mariana para o partido”, brinca.
Agora, os próximos parabéns que espera receber são no dia 4 de fevereiro, o dia das eleições regionais. “Queremos implementar um plano de combate ao abandono escolar precoce, queremos aumentar salários, aumentando o complemento regional – é uma forma de tirar muita gente da pobreza, quando 26% da população está em risco de pobreza”, refere António Lima, enumerando algumas das propostas eleitorais do Bloco.
Mas, para isso, o partido precisa de subir nos Açores - onde tem estado estagnado, elegendo sempre apenas dois deputados, desde 2016, ao mesmo tempo que a direita e a extrema-direita vão crescendo.
Marisa Matias reconhece que a Esquerda tem de fazer mais: “A ameaça à democracia é tão grande neste momento. É um discurso tão fácil de destruir tudo aquilo que levámos tantos anos a construir, de, de facto, tem de ser feito um trabalho de proximidade.”
“Provavelmente, temos de chegar ainda mais perto das populações”, admite.
A eurodeputada, que este ano prevê trocar Estrasburgo por Lisboa – depois de encabeçar as listas do Bloco às legislativas no círculo eleitoral do Porto -, veio aos Açores para participar na campanha, numa altura em que o país está de olhos postos na Madeira. E encontrou paralelismos.
“Temos percebido que há muitas redes de interesses instaladas, há muitas dimensões profundamente obscuras de negociatas com a política”, descreve. “É preciso fazer um trabalho de fundo para revalorizar a democracia, afastar esses interesses. Total transparência, aqui nos Açores, como na Madeira”, continua, admitindo, contudo, que as recentes investigações por alegada corrupção, e que põem em causa o Governo Regional da Madeira, “não são uma surpresa”.
É também de falta de transparência que o candidato do Bloco de Esquerda nos Açores acusa a Aliança Democrática do atual presidente do Governo dos Açores, José Manuel Bolieiro, criticando-o por não divulgar as propostas eleitorais que tem para a região: “É inadmissível.”
Quanto ao PS, do ex-presidente do Governo Regional Vasco Cordeiro, António Lima conhece-lhe o programa, mas encontra nele um problema. “Tanto está disponível para entendimentos à esquerda como entendimentos à direita. Eu pergunto-me que programa é este? Que programa é este que pode ser compatível com o de quem apoiou o atual Governo?”, questiona.
Pede, por isso, ao PS que seja claro: tem de dizer um adeus definitivo à direita nos Açores, se quiser o apoio do Bloco de Esquerda para uma “geringonça” na região.