
@ Ueslei Marcelino/Reuters
Antigo presidente Lula, ex-presidente Dilma, atual presidente Temer e candidato convalescente Bolsonaro foram o alvo dos presidenciáveis em debate muito católico.
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"Lula está preso", "a Dilma levou o país à falência", "os senhores uniram-se a Temer para derrubar uma presidente eleita", "não queremos, como Bolsonaro, dar a primeira arma aos jovens mas sim o primeiro emprego".
Os estúdios da católica TV Aparecida, em homenagem à santa padroeira do Brasil, receberam nesta madrugada seis dos 13 candidatos à presidência para um debate que só aqueceu quando se falou de quem não estava lá, o antigo presidente Lula da Silva, a ex-presidente Dilma Rousseff, o atual presidente Michel Temer e o candidato convalescente Jair Bolsonaro.
Ao longo das três horas de uma discussão em que a presença de Fernando Haddad, o recentemente nomeado candidato do PT, era a principal novidade, os candidatos trocaram perguntas entre si e responderam a questões de jornalistas e de bispos sobre economia, corrupção, segurança, educação e outras preocupações dos brasileiros num formato que não permitiu as tradicionais trocas de piropos.
Haddad, que segue em segundo lugar nas sondagens, atrás de Jair Bolsonaro (PSL), que recupera de uma facada no estômago mas teve claque de apoio às portas do estúdio no Santuário de Aparecida, tentou lançar Michel Temer, o presidente mais impopular da história, contra Geraldo Alckmin, cujo PSDB apoiou o seu governo.
"Mas quem escolheu Temer foram vocês", disse Alckmin, em quarto nas sondagens, lembrando que o atual presidente foi "vice" da deposta Dilma, do PT. "Mas quem se uniu a ele para a derrubar foram vocês", ripostou Haddad, usando Temer como uma espécie de arma tóxica de arremesso.
De resto, poucos confrontos. Ciro Gomes, do PDT, que está em terceiro nas sondagens mas ainda acredita numa ultrapassagem a Haddad, da mesma família política de centro-esquerda, quase pediu desculpas ao adversário por uma provocação, ou "pinicadinha", como lhe chamou. "As circunstâncias de vida colocam-me como adversário do meu amigo Haddad mas aqui vai uma "pinicadinha"...", disse, antes de um ataque, suave, à gestão do PT.
Ao responderem a uma pergunta de Dom Odilo Scherer, arcebispo do Brasil, sobre o tema que mais aquece os ânimos dos brasileiros, a corrupção, tanto Alckmin como Álvaro Dias, do Podemos, foram, pelo menos, enfáticos. "Andamos a ser governados por organizações criminosas", disse Dias. "Quem enriquece na política é l-a-d-r-ã-o"", soletrou Alckmin, logo a seguir.
Guilherme Boulos, o autor da frase "queremos dar um primeiro emprego à juventude e não uma primeira arma", que é candidato do partido de extema-esquerda PSOL, e Marina Silva, do Rede, para quem "a candidatura de Bolsonaro anda a pegar fogo", completaram o lote de convidados da TV Aparecida.
Ficaram de fora, além do omnipresente Bolsonaro e do Cabo Daciolo (Patriotas), candidato evangélico em retiro num monte, mais cinco concorrentes que, por não pertencerem a partidos com grupos parlamentares superiores a nove congressistas, podem, por lei, ser esquecidos pelas televisões.