Livre e Bloco de Esquerda divergiram sobre defesa e na forma como encaram as instituições europeias. Tavares convocou Rosas e Louçã, Mortágua respondeu com a “vacina” grega
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A discussão entre “as duas pessoas com quem Luís Montenegro não quis debater", como começou por dizer Rui Tavares, registou a primeira picardia pouco depois dos cinco minutos quando o dirigente do Livre invocou posições de Fernando Rosas sobre o Brexit e de Francisco Louçã sobre a moeda única.
“Quando foi o referendo do Brexit, lembro-me de ouvir o Fernando Rosas, candidato agora por Leiria, a dizer que não se devia chorar uma lágrima pelo fim da União Europeia. É uma diferença histórica grande. Nós nunca nos deixamos encandear pelo que, às vezes, há de algum discurso nacionalista à esquerda que acha que, por exemplo, uma desglobalização, mesmo que movida por Trump, pode ser uma coisa interessante,” começou por dizer Rui Tavares para depois acrescentar que o Livre nunca defendeu “por exemplo, a saída do euro. Isso foi um debate muito intenso. O Francisco Louçã escreveu um livro inteiro sobre a solução ao novo escudo.”
Na resposta, Mariana Mortágua garantiu que “o Bloco nunca propôs a saída do euro” e depois partiu para o contra ataque: “eu própria acho que chorei uma lágrima pela União Europeia quando vi o Banco Central Europeu e a Comissão Europeia a esmagarem a Grécia. Acho que se não ficamos todos um bocadinho mais vacinados e céticos sobre as instituições europeias e mais críticos também, isso diz muito sobre nós”, atirou a coordenadora bloquista.
O debate voltou a aquecer quando se debateu o reforço de investimentos na área da Defesa, com Rui Tavares a considerar que “as tropas russas chegaram a Bucha (na Ucrânia) e Bucha é a distância de Alverca até aqui (Oeiras).
“Estiveram quase a tomar Kiev. Eu não quero que se pense que Putin é uma gripezinha, como Bolsonaro dizia da Covid. Temos que nos preparar e preparamos mesmo que a ameaça venha ou não venha”, defendeu o porta voz do Livre.
Mariana Mortágua contrariou a ideia de que “Putin vem num tanque montado e que nos vai entrar pela fronteira espanhola.”
“É uma ideia errada. Putin não chegou a Kiev e não chegou porque a Europa apoiou a defesa ucraniana. Portanto, dizer que nós temos que gastar 800 mil milhões, que nos vamos endividar até aos dentes, é um erro”, sublinhou a coordenadora bloquista.
Rui Tavares contra argumentou que “a União Europeia, não tem praticamente dívida da União e “não se vai endividar até aos dentes”.
No final do debate, questionados sobre eventuais entendimentos com o PS, Rui Tavares apelou para que se olhe para a esquerda, “porque encontram mais resposta na esquerda e vitalidade”, enquanto Mariana Mortágua considerou que a capacidade de a esquerda ter mais deputados irá “determinar a possibilidade de impor medidas”.