Deficientes das Forças Armadas: cinco anos à espera de ver o processo concluído
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Aquele dia do mês de maio de 1973 mudou a vida de Ludgero Sequeira. Estava na Guiné-Bissau com o batalhão da Força de Comandos a que pertencia e foi enviado para o mato para uma operação especial. "Nessa operação, fui ferido com a detonação de uma mina anticarros que rebentou a quatro ou cinco metros do local onde estava", conta. Ficou cego e a força da detonação perfurou-lhe os tímpanos.
Da Guiné foi transferido para o Hospital Militar em Lisboa, onde ficou um ano. De lá saiu sem ver de um olho e com cerca de 60% de visão no outro. Depois de expor o seu caso ao chefe de Estado Maior do Exército, conseguiu ser operado em Barcelona e o olho em que não via recuperou 15 a 20%. No final, foi-lhe atribuído um grau de deficiência de 64,9%.
Ainda bem jovem conseguiu refazer a vida, formando-se como economista, trabalhando no Ministério das Finanças e na Caixa Geral de Depósitos. Na década de 1980 entra como docente da Universidade do Algarve, instituição onde acabou a carreira.
Ao longo dos anos a visão começa a piorar, é operado novamente em Espanha, em 2003, e em 2017, após dois transplantes de córnea no hospital de Coimbra, que não conseguiram ter sucesso, ficou com a visão muito diminuída.
Depois de todas as operações, um "calvário" para Ludgero Sequeira, decide pedir ao Ministério da Defesa a revisão do seu processo e pedido de agravamento do seu grau de deficiência. Estávamos em 2019 e pelo meio houve um recurso, visto que a junta médica militar, num primeiro momento, não considerou a sua falta de audição, que também se agravou ao longo dos anos.
A este antigo combatente atribuíram um grau de deficiência de 90%, mas o processo só obteve resposta definitiva em 2024, cinco anos depois. ”Tinha 68 anos quando iniciei o processo e recebi resposta no dia em que fiz 74”, relata.
“É desesperante e sobretudo uma grande injustiça, porque o que sentimos é que fomos ficando, pouco a pouco, cada vez mais esquecidos”, lamenta. Conta que há muitos ex-camaradas de armas que ficam anos à espera que os processos se desenrolem e, por vezes, a resposta surge após a morte.
Há duas semanas foi notícia o protocolo de colaboração entre o Ministério da Defesa e a Ordem dos Advogados. O ministro anunciou que esse acordo pretendia criar uma Task Force para acelerar a revisão dos processos dos antigos combatentes para classificação como Deficientes das Forças Armadas. Nuno Melo garantiu que essa comissão iria responder em 60 dias a cerca de 200 processos pendentes. Ludgero Sequeira tem alguma expetativa, mas quer ver para crer. Assim se faça justiça a quem a pede há tantos anos.