Deputados do PS criticam Marcelo, mas lamentam 'timing' escolhido pelo Governo
Ouvidos pela TSF, vários deputados consideram que o presidente da República foi "desleal" ao rasgar o que estava acordado, mas defendem que o Executivo vai sair prejudicado ao revelar o episódio.
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O presidente da República foi "desleal", mas o momento escolhido pelo Governo para manifestar desagrado com as declarações de Marcelo Rebelo de Sousa após os incêndios não foi o melhor.
Foi isso que relataram à TSF vários membros do grupo parlamentar do PS, depois da manchete desta quinta-feira do jornal PÚBLICO, que, citando fonte do Executivo, dá conta de que foi com surpresa e até com choque que o Governo ouviu, depois dos incêndios dos dias 15 e 16 de outubro, a declaração do chefe de Estado.
Marcelo Rebelo de Sousa "esteve mal" em dar o passo em frente e ao falar ao país ainda antes do Conselho de Ministros extraordinário e de reveladas as medidas para dar resposta à tragédia, diz à TSF fonte da direção do grupo parlamentar socialista.
A mesma fonte, entende, no entanto, que o momento escolhido pelo Governo para dar conta do desagrado com a intervenção do presidente da República "foi errado", salientando que, com a crescente popularidade de Marcelo - até em virtude da presença quase diária do chefe de Estado nos concelhos afetados pelos incêndios -, o Governo "corre o risco de sair ainda mais prejudicado" com este episódio.
Ouvida pela TSF, uma outra fonte da direção da bancada socialista considera o Governo "deveria manter-se em silêncio", apesar de defender que o presidente da República também "se antecipou, e mal" ao Executivo.
Entre os membros do grupo parlamentar do PS que foram contactados pela TSF, nem um duvida de que Marcelo Rebelo de Sousa estaria mesmo a par do que estava a ser preparado pelo Governo em matéria de prevenção, combate e apoio às vítimas - e, até, do momento escolhido para a saída da ministra da Administração Interna -, e que, inclusive, se tinha comprometido com o calendário escolhido para a apresentação de medidas, porém, nenhum dos deputados ouvidos ousa também manifestar, de viva voz, uma opinião sobre o caso.
Ouvida pela TSF afirma, no entanto, uma outra fonte da bancada socialista, o presidente da República "teatralizou" e foi "desleal" num "momento difícil" para o país. Diz ainda um outro deputado que, mesmo "tendo razão", o Governo está a "arriscar demasiado" ao revelar o acordo que terá sido estabelecido, e depois rompido por parte do presidente da República.
Quem também se recusou a falar aos jornalistas, mas criticou Marcelo através das redes sociais foi Porfírio Silva, deputado e membro do secretariado nacional do PS, que escreve, esta quinta-feira, no Facebook, que "ao exigir com voz grossa aquilo que já lhe tinha sido comunicado que estava preparado" por parte do Governo, o chefe de Estado teve um "inaceitável aproveitamento politiqueiro de uma enorme tragédia".
Acrescenta este membro da direção do PS que "não pode um órgão de soberania usar as tragédias humanas para passar rasteiras a outro órgão de soberania".
Carlos César afirma que as relações entre Costa e Marcelo "são boas"
Esta tarde, o líder parlamentar socialista, Carlos César, em declarações feitas na qualidade de deputado socialista eleito pelo círculo dos Açores, afirmou à agência Lusa que as relações entre o Governo e o Presidente da República "são boas" e "assim devem continuar".
Quem também falou, mas sobre um artigo de opinião publicado no Ação Socialista, o jornal oficial do PS, foi a deputada Edite Estrela, a diretora deste jornal digital.
No artigo de opinião assinado por Simões Ilharco, escreve-se que Marcelo "exorbitou" os seus poderes, revelando "demagogia e populismo". Confrontada com esta posição manifestada no jornal oficial do partido, Edite Estrela, diz não subscrever essa posição.
"No Ação Socialista não há censura. A deputada Edite Estrela se tivesse essa visão escrevia-a. Não escreveu", concluiu a deputada e diretora do jornal Ação Socialista.
Ascenso Simões diz que Marcelo falou "ao coração" dos portugueses
Também no jornal oficial do PS, através de um artigo de opinião, Ascenso Simões, deputado do PS, defende que Marcelo "ficou colocado na situação de ter que falar ao coração dos portugueses".
"E fê-lo. Ainda bem que o fez, porque a sua intervenção serviu para acomodar sentimentos, para parar a revolta e a sensação larvar de desproteção", escreve o ex-secretário de Estado - que, em Governos do PS, assumiu pastas como a Administração Interna, as Florestas e a Proteção Civil -, que acrescenta: "O Presidente da República sabe que todos os sinais são relevantes, que o que diz determina o caminho".