"Desde que não seja nada com ela, todas as cabeças podem rolar." BE acusa ministra da Saúde de "descartar-se das responsabilidades"
Mariana Mortágua considera mesmo que o Governo se está a "descartar" das suas responsabilidades no setor da saúde, mas também nos "serviços públicos" e nas "condições de vida em Portugal"
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A coordenadora do BE acusou este domingo o Governo de estar a preparar "a organização de um negócio privado da saúde", ao mesmo tempo que se "descarta das responsabilidades" sobre os problemas no setor. Mariana Mortágua dá o exemplo das polémicas da ministra da Saúde, Ana Paula Martins, com várias administrações hospitalares.
"Em Viseu, com as urgências de pediatria, a ministra disse que não sabia de nada, que não podia fazer nada e, depois, percebemos que tinha recebido atempadamente pela administração do hospital [a informação de] que as urgências iam fechar. E, ainda assim, qual é a primeira reação da ministra? Demitir a direção e a administração do hospital, porque a culpa com certeza era de alguém, mas não é dela. E isto que se passou com as urgências de pediatria em Viseu, passou-se na Margem Sul, em Almada-Seixal com as urgências de obstetrícia", apontou, num almoço com militantes do partido, em Viseu, a propósito da discussão do Orçamento do Estado para 2025.
Mariana Mortágua denunciou, por isso, que o importante para o Governo "é proteger o lugar" da responsável pela pasta da Saúde.
"A ministra também não sabia de nada, não soube nada e, à última da hora, demite a administração. Desde que não seja nada com ela, todas as cabeças podem rolar: da administração, dos trabalhadores e dos sindicatos", disse.
A coordenadora do Bloco de Esquerda acusou igualmente o Executivo de não querer "salvar" o Serviço Nacional de Saúde (SNS) e, pelo contrário, afirmou que este está a preparar a "organização do negócio privado da saúde", lamentando toda a gestão feita no setor.
"O Governo sabia dos problemas da Saúde quando tomou posse. Fez uma campanha sobre os problemas da Saúde e prometeu resolvê-los, criando um plano de emergência, em meia dúzia de dias. E, quando o plano chega e nós o conhecemos, percebemos que o que está ali não é um plano para salvar o SNS. É um plano de negócios para a Saúde, de organização do negócio privado da saúde, onde vai entrar e com que caraterísticas e condições é que vai entrar", vincou.
Indo mais longe, a bloquista considera que Ana Paula Martins e o Executivo liderado por Luís Montenegro têm fugido às responsabilidades decorrentes dos problemas no setor.
"A realidade, entretanto, com mais ou menos planos de emergência, é aquela que vemos e a resposta da ministra e do Governo é dizer 'eu não tenho nada que ver com isso'. É descartar-se das responsabilidades", defendeu.
Mariana Mortágua afirmou ainda que o Executivo tem recorrido aos centros de saúde privados, em vez de se "preocupar em ter unidades de saúde familiar e em ter médicos de família".
"O Governo quer descartar as responsabilidades do Estado na criação e no cuidado do nosso país, da nossa comunidade, das pessoas, daquilo que nos torna unidas, daquilo que nos faz um conjunto inteiro e isso na saúde é muito óbvio. O Estado deixa de se preocupar em ter centros de saúde, em ter unidades de saúde familiar, em ter médicos de família e o que faz é criar centros de saúde privados e dizer: 'eu pago. A preocupação é agora é de outro'", insistiu.
A coordenadora do BE considerou, por isso, que o Estado não está preocupado "em saber se há urgências" e se os portugueses têm "um atendimento hospitalar à altura das necessidades".
"[O Estado] diz 'vou pagar a um privado para ficar com os casos menos graves, vou pagar a peso de ouro um privado para ficar com os casos menos graves e depois os casos graves acabarão por vir para o público'", lamentou, acrescentando que esta realidade é especialmente visível com o recurso às farmácias para vacinar os utentes.
"É isso que se está a fazer com o reforço do pagamento a farmácias para vacinarem as pessoas, uma área que o Estado português tinha pergaminhos e os melhores indicadores de vacinação. Agora, estão a pagar balúrdios às farmácias para ter resultados piores do que se tinha. E é isso também que está a fazer o Estado quando resolveu aumentar os benefícios às empresas privadas para pagarem seguros de saúde aos seus trabalhadores", criticou.
A bloquista insiste, por isso, que o Governo se está a "descartar" das suas responsabilidades no setor da saúde, mas também nos "serviços públicos" e nas "condições de vida em Portugal".