Líder do PCP disse, num almoço na Associação 25 de abril, que continua como secretário-geral do partido até ao "limite das forças" e que a questão da sucessão "não está posta".
Corpo do artigo
Na última semana, a questão da liderança do PCP esteve sob os holofotes mediáticos, mas, esta terça-feira, durante um almoço promovido pela Associação 25 de Abril e a revista "Ânimo", Jerónimo de Sousa quis "descansar" aqueles que ainda têm dúvidas sobre quem será o próximo secretário-geral comunista.
"Queria descansar quem está tão preocupado com a possibilidade de ir-me embora, tirando aqueles que me querem ver pelas costa. A questão não está posta", disse o líder comunista, num almoço com cerca de 70 pessoas, entre eles vários militares.
No início do mês, em entrevista à Agência Lusa, o líder comunista - que em abril completa 72 anos de idade - admitiu poder vir a abdicar da liderança do PCP em 2020, no próximo Congresso Nacional do PCP. "Aceitei esta responsabilidade que os meus camaradas entenderam atribuir-me, procurando estar à altura, o que não é fácil, mas percebi que nestas tarefas cada um de nós tem de perceber e escolher o momento para alterar as suas responsabilidades", disse.
Jerónimo de Sousa recusa agora que a afirmação tenha deixado a porta aberta a uma saída, e garante que não está disposto a abdicar da liderança.
"Até ao limite das minhas forças continuarei a aceitar essa responsabilidade, esse apoio que os meus camaradas me dão, e não só, porque muitos e muitos portugueses - que até nem são do meu partido - me que me dizem para continuar. Isso dá-me uma força imensa", sublinhou.
Nesse sentido, o secretário-geral do PCP atira: "Desistam os apressados porque cá vamos continuar a nossa luta".
"Não é possível andar para trás", diz Jerónimo
Sobre uma "repetição" da atual solução política após as próximas eleições legislativas, Jerónimo de Sousa considerou, no almoço, que é preciso esperar para ver. "Falta ver o desenho e a correlação de forças.", disse, sublinhando, no entanto, que há espaço para diálogo: "Chegámos aqui, agora não é possível andar para trás".
Segundo Jerónimo de Sousa, o caminho feito pela atual solução política liderada pelo PS foi "profícuo", o que leva o líder comunista a deixar uma questão: "Temos de recuar por imposições estrangeiras?".
"Mantemos os compromissos com o PS", acrescentou ainda o líder do PCP, que disse, contudo, aos presentes - que apelaram a uma reedição da atual solução de Governo - para que "não exijam ao PCP que deixe a sua matriz".
Ainda assim, Jerónimo de Sousa sublinha, que pelo PCP, "toda a convergência possível", mas "mantendo sempre este partido o que é e o que foi". "A minha esperança é a de que se criem condições para que, depois das eleições legislativas de outubro, haja uma solução do mesmo tipo. O país tem ganho mais do que tem perdido", afirmou Jerónimo de Sousa.
Para o secretário-geral comunista, desde as legislativas de 2015 houve "avanços", mas também "ficou muita coisa por fazer" e há "problemas estruturantes da sociedade que continuam por resolver".
"Houve avanços, fez-se justiça, mas, por imposição estrangeira, designadamente da União Europeia, temos atrofiamentos e dificuldades que têm de ser resolvidos e ultrapassados", insistiu.
Vasco Lourenço pede continuação da 'geringonça'
Antes da intervenção de Jerónimo de Sousa, já Vasco Lourenço, presidente da Associação 25 de abril, tinha afirmado que a atual solução governativa "funcionou" apesar de "não ter funcionado como muitos de nós gostariam", assinalando a importância de que se "criem condições para "outra solução do mesmo tipo".
"Estou a fazer votos para que a solução passe por obrigar a uma nova 'geringonça'", disse Vasco Lourenço, que acrescentou: "Saiu o tiro pela culatra a quem tentou denegrir a atual solução governativa".