Direitos das mulheres dividem partidos, mas todos concordam que "há muito caminho por fazer"
Mulheres dos vários partidos políticos alertaram para o que ainda é preciso fazer pelos direitos das mulheres em Portugal.
Corpo do artigo
Na véspera do Dia da Mulher e com uma campanha eleitoral ainda no terreno, Alexandra Leitão, cabeça de lista do PS por Santarém, alerta que podem acontecer retrocessos nos direitos das mulheres se a direita chegar ao poder.
"Temos dado passos muito importantes, sempre pela mão do Partido Socialista, mas ainda há muito caminho por fazer. Gostava, contudo, de salientar que neste momento considero que estamos perante um momento em que podemos vir a assistir, se por ventura a direita ganhasse, a um enorme retrocesso nos direitos das mulheres", avisou no Fórum TSF Alexandra Leitão.
Palavras que caíram mal a Teresa Morais, o primeiro nome da Aliança Democrática em Setúbal.
"A Aliança Democrática não recebe lições do Partido Socialista, nem da esquerda em geral, em nada que diga respeito à defesa dos direitos das mulheres. A Aliança Democrática tem, de resto, entre as mulheres mais notáveis do país, aquela que foi a única presidente de um partido, que foi a doutora Manuela Ferreira Leite, que foi também a primeira-ministra das Finanças, a única presidente da Assembleia da República, a doutora Assunção Esteves e, relativamente às matérias que estamos hoje a tratar, temos muito trabalho feito, designadamente nos anos em que eu tive responsabilidades nesta matéria e em que foram criadas muitas medidas novas, quer em relação à matéria da igualdade no trabalho e no emprego, quer em relação à desvalorização ou à diferença salarial, quer em relação à proteção das vítimas de violência doméstica e ao combate à violência doméstica", argumentou Teresa Morais.
No caso do Chega, Rita Matias, a cabeça de lista do partido em Setúbal, alerta para a perda de protagonismo das mulheres.
"A mulher foi perdendo espaço de fala na opinião pública. Atualmente vemos pessoas que não nasceram biologicamente mulheres, homens biológicos, a ocuparem lugares que pertenciam às mulheres. Seja na política, seja nas artes, seja na cultura, seja no desporto. Isto traz de facto injustiça. Reparem que a dado momento até tivemos a discutir na Assembleia da República a possibilidade de os espaços de intimidade, balneários e casas de banho serem partilhados por pessoas que não nasceram mulheres", afirmou Rita Matias.
Também em declarações no Fórum TSF, Joana Cordeiro, da Iniciativa Liberal - a primeira por Setúbal -, manifestou-se contra a existência de quotas.
"A verdade é que quando defendemos quotas estamos a dizer que muito provavelmente as mulheres só chegam a determinados lugares se for por uma questão de quotas e isto, para a Iniciativa Liberal, não é a forma de ver as coisas. Volto ao que estava a dizer: se tivermos uma economia forte, um país que valorize o trabalho e mérito, que tenha melhores salários, que tenha também uma flexibilidade laboral melhor, exatamente para permitir teletrabalho, um acompanhamento mais próximo da vida familiar, esta diferença vai esbater-se", defendeu Joana Cordeiro.
O Livre discorda. Isabel Mendes, a segunda na lista por Lisboa, defende as quotas como um caminho que se abre para mitas mulheres.
"A desigualdade está enraizada, é preciso conseguirmos combatê-la e as quotas são uma forma de combater e não há nenhuma mulher que esteja num lugar que tenha falta de mérito. Não há nenhuma mulher que seja colocada só porque é preciso preencher uma quota, é exatamente ao contrário. Estamos a abrir um caminho que já de si é sempre mais difícil para as mulheres para mulheres com mérito conseguirem estar nos lugares onde devem estar. O Livre sempre teve, desde a sua fundação, a paridade de 50% inscrita nos seus estatutos e isso tem mostrado que temos mulheres absolutamente espetaculares nas listas do Livre", sublinhou Isabel Mendes.
Já o PCP considera que a falta de direitos laborais agrava as desigualdades e prejudica as mulheres. Alma Rivera, cabeça de lista da CDU por Évora, nota que nas questões de igualdade ainda há muito para fazer.
"Há um caminho a percorrer tendo em conta que, se formos analisar a diferença salarial e se, por exemplo, tivermos em conta um rendimento salarial médio líquido, há uma disparidade de 15%. Ainda sabemos que, ao nível da precariedade, alastra particularmente nos sectores mais feminizados. Temos, por exemplo, os níveis de desemprego também a incidirem mais sobre as mulheres e, ao mesmo tempo, isto é acompanhado, como é evidente, de uma componente ao nível dos comportamentos e das dinâmicas sociais que tem uma face violenta que nós todos conhecemos ao nível da violência doméstica, da exploração e da violência sexual", explicou Alma Rivera.
Por sua vez, Catarina Martins, ex-coordenadora do Bloco de Esquerda, também ouvida no Fórum TSF, destaca o que ainda não foi feito em relação aos direitos das mulheres.
"Nós temos muito a fazer, acho que é inegável. Portugal caminhou muito nos últimos 50 anos, mas também temos que olhar para o país que temos. Neste momento a maior parte da pobreza é pobreza feminina, muitas famílias monoparentais. Lembro que uma mãe com um filho que ganhe um salário mínimo, mesmo a trabalhar o dia todo, não sai da linha da pobreza e, portanto, temos salários que são indignos e temos uma desigualdade salarial que permanece embora a lei diga que tem de haver salário igual. Neste momento as mulheres recebem em Portugal algo como 20% a menos", acrescentou Catarina Martins.
