Do serviço militar obrigatório ao fim do acordo ortográfico "woke": as prioridades dos militantes nas moções do Chega
Problemas como a saúde e a habitação ficam reduzidos a uma moção cada um e as propostas de caráter nacionalista dominam a agenda.
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São mais de 30 as moções que vão ser apresentadas, este fim de semana, na VI Convenção Nacional do Chega, que acontece em Viana do Castelo. Na convenção em que André Ventura, o único candidato, deverá ser reeleito líder desta força política, os militantes escolheram colocar em cima da mesa temas que vão desde a já célebre bandeira anticorrupção à também já característica visão antimigratória, passando ainda pela vida interna do partido.
Entre as 31 moções temáticas divulgadas, esta quinta-feira, pelo partido, entre as que serão apresentadas na convenção há espaço, sobretudo, para propostas de caráter nacionalista - desde logo com uma moção pela "revitalização da identidade nacional portuguesa", em que é defendida a reintrodução do hino português nas escolas e do serviço militar obrigatório.
A vertente antimigratória está também presente, em moções que defendem a regulação da imigração através, por exemplo, da introdução de quotas de imigrantes. Uma moção chamada "Portugal precisa de mais portugueses" advoca mudanças na lei da nacionalidade e pede que se exija um teste sobre a língua e a história do país a quem quer ser cidadão português.
No plano mais insólito, a moção pelo fim do último acordo ortográfico, acusado pela militante que a redige de ser uma arma "marxista" e da "cultura woke".
A reforma do aparelho público é outra das grandes temáticas - desde a reestruturação do Ministério da Agricultura ao "emagrecimento" da Administração Pública -, sempre muito focado na bandeira do combate à corrupção, agitada desde a fundação do partido. Mas também alterações ao regime eleitoral, com uma moção "por um círculo de compensação justo", onde se coloca a hipótese de reduzir para menos 50 o número de deputados na Assembleia da República.
Outra das bandeiras do partido, a defesa das forças de seguranças, está presente em moções pela reestruturação da Polícia de Segurança Pública e da Guarda Nacional Republicana e pela reversão da extinção do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras.
A economia surge em moções em prol do alojamento local enquanto motor económico, do combate à "crise na indústria do calçado" e pelo desenvolvimento de infraestruturas para a mobilidade.
Há lugar para os temas da educação e juventude com moções sobre as crianças com necessidades educacionais especiais, e em moções pelo "investimento num futuro promissor" dos jovens ou pelo "fim da ideologia no ensino", aqui dedicando-se mais à oposição a questões dos direitos de identidade de género no espaço escolar.
Até as questões ambientais merecem a atenção dos militantes nesta VI Convenção do Chega através de moções pela sustentabilidade com responsabilidade ecológica, ou sobre o impacto ambiental dos parques fotovoltaicos no Algarve. Merecem, nas propostas dos militantes do Chega, até mais destaque do que os temas da saúde e da habitação, a quem é dedicada apenas uma moção a cada.
No caso da saúde, defendendo-se "contratos de trabalho médico versáteis para melhorar o SNS" e, na habitação, propondo-se como forma de combate à crise habitacional o aumento da construção com menor carga fiscal.
Como vem sendo habitual, a vida interna do partido também será protagonista das moções apresentadas - pedem a "preservação da identidade política e unidade interna do Chega", a isenção do pagamento de quotas para quem tem mais de 70 anos, ou a recomendação de que militantes condenados por violência doméstica não possam candidatar-se a órgãos do partido.
As moções serão apresentadas durante a tarde e noite de sábado, após a eleição do presidente do partido. Em convenções e congressos passados, o Chega gerou polémica por não divulgar publicamente a natureza das moções apresentadas ou por não chegarem sequer a ser apresentadas metade das moções submetidas.
Desta vez, as atenções na convenção nacional do Chega estão viradas para os primeiros sinais de quem irá compor as listas do partido, depois de André Ventura ter afirmado que irá contar com atuais e antigos deputados do PSD.