Líder do PSD/Santarém reconhece a postura pouco "tradicional" do presidente do PSD.
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O PSD apresentará na sexta-feira em Santarém um documento de apoio ao presidente Rui Rio, para o qual foi pedida a assinatura dos líderes das distritais.
O texto, que foi noticiado na tarde desta quinta-feira pelo Público e Observador e a que a Lusa teve acesso, foi enviado na quarta-feira pelo vice-presidente do PSD Salvador Malheiro aos presidentes das distritais como proposta de comunicado, e começa por apelar à serenidade e sentido de responsabilidade dos militantes, defendendo que todos têm de contribuir para que a "unicidade da mensagem" não seja deteriorada perante a opinião pública.
Recordando que o PSD elegeu os seus novos órgãos há pouco mais de seis meses, na proposta de comunicado defende-se a estabilidade e o "respeito que todos devem guardar aos militantes" que elegeram Rui Rio como presidente em janeiro deste ano.
Rui Rio "não é exemplo" mas é preciso "cerrar fileiras"
À TSF, o líder da distrital de Santarém, João Moura, admite que Rui Rio "não é exemplo" do politicamente correto mas defende que o partido precisa de "estabilidade".
"Temos consciência que o atual líder do PSD não tem um registo tradicional na política nacional", começa por referir Moura, que acrescenta mesmo que "é um líder que tem alguma dificuldade de interpretação, até na imprensa". Apesar destas características, o líder do PSD Santarém defende que isto "não se traduz numa vontade que se tem visto, principalmente, em certos opinadores políticos da sociedade portuguesa que têm a sua génese e filiação partidária no PSD".
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"O Dr. Rui Rio tem uma estratégia consolidada para aquilo que quer do país. Se a forma como a tem tentado transmitir não é aquela a que a generalidade das pessoas está habituada - é realmente diferente - o que importa é o conteúdo do que quer transmitir. E esse está correto e os portugueses estão a entendê-lo", rematou João Moura.
O repto para assinar o documento foi lançado a todas as distritais e o líder da de Santarém garante que a "esmagadora maioria das distritais" já confirmou a presença na assinatura do documento. "Não tive nenhuma resposta de ninguém que não se revisse no documento", garante João Moura, adiantando ainda que não tem indicações de que a distrital de Lisboa "esteja desalinhada com a atual liderança do partido".
João Moura abordou também as recentes movimentações no interior do partido, em particular a saída de Pedro Santana Lopes, "um ex-primeiro-ministro", para fundar a Aliança, algo que considera que "não é normal".
O objetivo deste documento é, no fundo, assegurar que os militante "se tranquilizem em torno de uma liderança que queremos que seja forte e que vá até às eleições legislativas". Em suma, "é um momento interno de discutir as questões dentro do PSD, para que se cerrem as fileiras necessárias" de apoio a Rui Rio.
O texto de apoio a Rui Rio
No texto, diz-se não ser aceitável nem compreensível "o ambiente de permanente instabilidade" para com a direção nacional e o seu presidente e o que se classifica de "constantes tentativas de deturpação das suas mensagens políticas" por parte de militantes do partido, considerando que tal prejudica os objetivos eleitorais do PSD e beneficia os seus adversários políticos.
"Quem age desta forma não quer que o PSD vença as eleições legislativas, na medida em que tudo está a fazer para prejudicar esse objetivo", refere-se.
No texto, diz-se defender a diversidade de opiniões e a liberdade de expressão, mas condenam-se climas de "guerrilha permanente" e "agendas pessoais" que ponham em causa o interesse do PSD.
No último dos pontos da proposta de comunicado a que a Lusa teve acesso, defende-se que Rui Rio "deve continuar a pautar a sua atuação por mensagens claras e corajosas, por uma intervenção política séria e credível, que privilegie sempre Portugal", para o qual contará com a "solidariedade e empenhamento" das distritais.
Viseu irá assinar o documento em nome da "solidariedade para com a direção nacional e as restantes distritais", tal como Setúbal, apesar de o presidente desta distrital, Bruno Vitorino, ter afirmado à Lusa que o texto "não era necessário" -- até porque nenhuma estrutura contestou o líder -- e que seria preferível o partido falar "sobre os problemas concretos das pessoas".
Este pedido de apoio das distritais à estratégia da direção surge depois de um Conselho Nacional com várias intervenções críticas, entre as quais as do antigo líder parlamentar Hugo Soares, e numa altura em que o ex-candidato do partido à Câmara de Loures, André Ventura, disse estar preparado para recolher "em menos de uma semana" as 2.500 assinaturas necessárias à convocação de um congresso extraordinário.
O próximo Congresso ordinário deverá realizar-se em fevereiro de 2020 e para se reunir extraordinariamente terá de ser convocado a pedido de 2.500 militantes.
Uma vez que o presidente do PSD é eleito diretamente pelos seus militantes, um Congresso extraordinário não tem poderes eletivos, mas poderá ser palco de apresentação de moções de censura ou confiança à Comissão Política Nacional.
"A aprovação de uma moção de censura exige o voto favorável da maioria absoluta dos membros presentes da assembleia competente, desde que o número destes seja superior à maioria absoluta dos membros em funções, e implica a demissão da Comissão Política", referem as normas do PSD.