Duas eleições e uma abstenção. Pedro Nuno completa um ano no PS com "momentos menos bons", mas "não há milagres"
Pedro Nuno Santos foi eleito secretário-geral do PS a 16 de dezembro de 2023. Venceu José Luís Carneiro
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A demissão de António Costa, envolvido na Operação Influencer, precipitou o objetivo de há muito de Pedro Nuno Santos. Saltou para a liderança do PS e, em poucos meses, contou com duas eleições: perdeu nas legislativas, venceu nas europeias. Em ambas, por “poucochinho”.
Ainda nem todos os votos estavam contados e já Pedro Nuno Santos definia o futuro do PS, na noite eleitoral de 10 de março: “Apesar da diferença tangencial, o PS será oposição.” Assumiu um lugar que o partido já não ocupava há oito anos.
E quanto à viabilização do Orçamento do Estado, a 10 de março, era “praticamente impossível, para não dizer impossível”. Meses depois, na hora da decisão, Pedro Nuno Santos contou com um partido dividido, os deputados próximos do secretário-geral pediram o chumbo, mas a ala de António Costa quis a viabilização. E Pedro Nuno Santos cedeu por duas razões.
“Em primeiro lugar, passaram apenas sete meses sobre as últimas eleições legislativas. Em segundo lugar, um eventual chumbo do Orçamento poderia conduzir o país e os portugueses para as terceiras eleições legislativas em menos de três anos sem que se perspetive que delas resultasse uma maioria estável”, justificou, a 17 de outubro deste ano.
A abstenção dá um balão de oxigénio ao Governo e coloca o PS, pelo menos, mais um ano e meio na oposição. A decisão foi votada por unanimidade na Comissão Política Nacional (CPN) socialista, embora, na opinião do antigo líder parlamentar e membro da CPN, Eurico Brilhante Dias, dê argumentos “fáceis” aos adversários. Em declarações à TSF, o deputado que apoiou José Luís Carneiro para a liderança do PS, antevê, a partir de agora, um novo rumo.
“Nem o Pedro Nuno Santos, nem outro teriam um caminho fácil durante este ano. Já dobrámos o cabo do ano, agora vamos focar-nos seguramente mais nas alternativas e nas opções para fazer frente a um Governo que já mostrou ser incompetente”, responde à TSF.
Pedro Nuno teve “momentos menos bons”, mas “não há milagres”
Eurico Brilhantes Dias lembra até os tempos de António José Seguro, quando pertencia ao secretariado nacional e era um dos braços direitos do então secretário-geral, pelo que “conhece bem o quadro difícil e as dificuldades de fazer oposição a um Governo”. Ou seja, “os recursos e a forma de intervir é completamente diferente”.
“Não há milagres. Nem podemos pedir milagres ao Dr. Pedro Nuno Santos”, remata.
Ainda assim, sem ajuda divina, Eurico Brilhante Dias admite que houve erros. O exemplo mais recente é a gestão da polémica dos despejos em Loures, com o autarca e então líder da Federação da Área Urbana de Lisboa, Ricardo Leão, que levou ao primeiro confronto entre Pedro Nuno Santos e António Costa.
“Há sempre momentos menos bons. Os partidos, quando estão na oposição, tendem a ser mais turbulentos, com menos estabilidade. Mas a verdade é que, mesmo esses sinais de alguma discussão interna, como foi o caso em torno da Câmara Municipal de Loures, a verdade é que o partido tem mantido um rumo relativamente unido”, nota.
Uma espécie de estado de graça no primeiro ano de mandato. No segundo, Pedro Nuno Santos tem pela frente eleições autárquicas que serão exigentes para o PS e vai ainda declarar o apoio a um candidato presidencial, na esperança que, desta vez, o partido não saia dividido.