É preciso "capacidade de ouvir a coisa mais abjeta". Aguiar-Branco considera que dizer nomes de crianças imigrantes no Parlamento "não viola lei"
E defende a atuação do vice-presidente do Parlamento Marcos Perestrello (PS) que permitiu Ventura continuar a expor nomes de crianças: "Estou absolutamente convergente com o que o senhor presidente em exercício fez. Não era eu que estava a presidir, mas faria no mesmo sentido"
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No auditório da Universidade do Algarve, Aguiar-Branco já tinha explicado aos alunos que, no seu entender, no Parlamento tem de haver "capacidade de ouvir a coisa mais abjeta e conseguir contraditar". Nesta etapa da visita ao distrito de Faro, o presidente da Assembleia da República (AR) salientou que por vezes "falta a todos a capacidade de aceitar a diferença". Palavras que foram entendidas como a antecâmara do pensamento que defendeu mais tarde perante os jornalistas.
Questionado sobre como tinha visto o líder do Chega, André Ventura, a citar, na sessão legislativa da última sexta-feira, nomes de crianças estrangeiras de uma escola de Lisboa, na defesa da ideia que há demasiados imigrantes no país, o presidente do Parlamento optou por falar em "liberdade de expressão" e defendeu a atuação do vice-presidente da AR Marcos Perestrello (PS) que deixou o deputado daquele partido político continuar. "Estou absolutamente convergente com o que o senhor presidente em exercício fez. Não era eu que estava a presidir, mas faria no mesmo sentido", assegurou ainda.
A atitude de André Ventura e a decisão de ter sido permitido que continuasse a sua intervenção levantaram um coro de críticas à esquerda. Contudo, Aguiar-Branco considerou que quem intervém na Assembleia da República fá-lo “na plenitude da liberdade de expressão que tem e da responsabilidade de assumir o que diz". Afirmou igualmente que "os nomes não eram identificáveis" e citou mesmo juristas para dizer que o facto de esses nomes terem sido ditos no Parlamento não violou nenhuma regra "do ponto de vista jurídico e constitucional”.
Com a ausência de Aguiar-Branco, que tinha viajado para estar presente no jogo da seleção feminina de futebol frente a Espanha, parte dos trabalhos na sexta-feira foram conduzidos também pelo vice-presidente Diogo Pacheco Amorim (Chega). Durante esse tempo, registaram-se diferentes erros cometidos pelo deputado do Chega e assistiu-se a uma votação que se arrastou durante mais de hora e meia. “Todos cometemos erros”, desculpou Aguiar-Branco.
Na visita ao distrito de Faro, o presidente da AR deslocou-se acompanhado por quase todos os deputados eleitos pela região — exceto Pedro Pinto do Chega — e visitou o Refúgio Aboim Ascensão, a Universidade do Algarve, os Banhos Islâmicos de Loulé, terminando o périplo numa reunião com os presidentes das câmaras municipais da zona.
O presidente do Parlamento foi também confrontado pelo facto de pelo menos 28 deputados serem candidatos às eleições autárquicas. Questionado sobre se essa decisão não contribuirá para o descrédito das instituições, uma vez que esses deputados foram eleitos há dois meses para o Parlamento, Aguiar-Branco afirmou que "há o direito de o fazer”, mas a AR pode sempre legislar em sentido inverso. No entanto, deixou um recado aos parlamentares, esclarecendo que, pela sua parte, “tem uma vocação que é conhecida desde sempre”: a de cumprir os mandatos. Para bom entendedor...